Título: PT, aliados e Planalto pressionam Tião Viana a retirar candidatura
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Fonte: Valor Econômico, 28/01/2009, Política, p. A5

O senador Tião Viana (PT-AC) está sendo pressionado pelo PT, partidos aliados e Palácio do Planalto a retirar sua candidatura a presidente do Senado, na eleição marcada para o dia 2. Nas contas de alguns governistas, o senador José Sarney (PMDB-AP), que é favorito à disputa, já disporia entre 58 e 62 votos assegurados. A insistência de Viana, portanto, seria prejudicial apenas ao PT, que perderia espaço na Mesa Diretora do Senado.

Graças ao acordo que fez para a a eleição do senador Renan Calheiros, há dois anos, o PT ficou com a primeira vice-presidência, ocupada pelo próprio Viana, e com a presidência da poderosa Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), exercida atualmente pelo senador Aloizio Mercadante (SP). Isso embora tenha apenas a quarta maior bancada, atrás de PMDB, PSDB e DEM.

O senador Tião Viana classifica de "chantagem" a pressão que é exercida pelos próprios aliados e insiste que irá com sua candidatura até o plenário. Sem acordo, a primeira vice-presidência deve ficar com os tucanos, assim como a CAE - o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) é cotado para o cargo, muito embora tenha manifestado simpatia pela candidatura de Viana. Ao Democratas caberá a forte primeira secretaria, uma espécie de prefeitura do Senado e responsável por um orçamento na faixa do bilhão de reais.

Descontente com o possível fortalecimento do PMDB no Senado e na Câmara, o PSB ameaça não apoiar Viana e diz que o governo pode perder seus aliados mais fiéis. "Se nem o PT está empenhado na eleição de Tião Viana, por que vamos apoiá-lo? Para ficar sem lugar na Mesa?", questionou o presidente do PSB de São Paulo, deputado Márcio França. "É uma vergonha o PT largar Tião nessa situação".

O candidato do PMDB na Câmara, deputado Michel Temer (SP), deu ontem uma demonstração de força ao reunir os líderes de 14 partidos que o apóiam. As siglas somam 428 deputados, que hoje devem formalizar a constituição de um "blocão" na Mesa da Câmara. Temer precisa de 257 votos para se eleger no primeiro turno. Ou seja, se houver uma quebra (traições) de 40% nos 428 votos do blocão, ainda assim ele se elegeria no primeiro turno.

Temer é favorito, mas passou a enfrentar forte resistência dos partidos que se opõem ao fortalecimento do PMDB na aliança governista. O PDT, por exemplo, que já declarou apoio a Michel Temer, também passou a questionar o fortalecimento do PMDB com a presidência das duas Casas. No domingo as bancadas do Senado e da Câmara devem se reunir para rediscutir o voto.

O presidente do PDT, deputado Vieira da Cunha (RS), disse que o partido manterá o acordo feito com Temer, porque já negociou a participação na mesa diretora e deve ficar com uma das suplências. Mas não concorda com a eleição de Sarney. "Vamos apoiar Temer, mas não gostaríamos de ver Sarney na presidência do Senado", disse. Além de Temer, disputam a presidência da Câmara os deputados Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com apoio do PSB, Ciro Nogueira (PP-PI) e Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Com o esvaziamento da candidatura de Tião Viana no Senado, a candidatura de José Sarney ganha força na reta final da campanha. Hoje, o PSDB deve divulgar apoio ao candidato, depois de uma reunião da bancada dos senadores marcada para as 11h.

A maioria dos 13 senadores tucanos tende a apoiar Sarney e nas negociações com os candidatos o partido reivindicou a primeira vice-presidência (atualmente os tucanos ocupam a segunda vice-presidência) e as Comissões de Assuntos Econômicos e a de Relações Exteriores (com a indicação de Eduardo Azeredo). A CRE também é reivindicada pelo PTB, que promete apoio a Sarney em troca do controle da comissão para o ex-presidente Fernando Collor (AL).

O PMDB não quer abrir mão da Comissão de Constituição e Justiça. Avalia hoje que, se tivesse no comando da CCJ, o processo por quebra de decoro contra o senador Renan Calheiros não teria ido tão longe. (Com agências noticiosas)