Título: Paulo Octávio em dia D
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 18/02/2010, Cidades, p. 44

Presidente Lula não recebe governador em exercício, que cada vez mais trabalha com a hipótese de renúncia. Até mesmo uma carta de despedida já foi escrita

Estudantes são abordados por seguranças no CCBB: pressão para que o presidente Lula não receba Paulo Octávio em audiência

Monique Renne/CB/D.A Press Governador em exercício trabalha com três cenários

O governador em exercício Paulo Octávio (DEM) passou a quarta-feira de cinzas conversando com amigos e aliados para definir seu futuro. Mais uma vez, ele não foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem espera receber apoio para continuar à frente do Governo do Distrito Federal (GDF). O encontro pode ocorrer hoje, mas não está garantido. De acordo com fontes do Palácio do Planalto, Lula estaria aguardando o desenrolar dos fatos antes de associar seu nome a Paulo Octávio, que é citado em vídeos em que aliados aparecem negociando supostas propinas com o ex-secretário de Relações Institucionais do DF Durval Barbosa.

Embora ainda espere apoio para governar, Paulo Octávio teme o surgimento de novas denúncias e cada vez mais pensa na possibilidade de renunciar e deixar o governo nas mãos do presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR). Para isso, já tem pronta uma carta de renúncia, que se juntou a outras duas: a que estava pronta para o caso de posse como governador em definitivo e outra para sua eventual expulsão do DEM (leia matéria na página 45).

Nas várias conversas que manteve ontem, Paulo Octávio foi aconselhado a renunciar ao cargo de governador. Na avaliação de seus conselheiros, com o governo desgastado, ele dificilmente conseguirá um clima de governabilidade que lhe permita administrar com tranquilidade até o fim deste ano.

Aos amigos, Paulo Octávio tem dito que está arriscando todo um patrimônio político e se sacrificando em busca dessa governabilidade. Tudo isso sem ser o governador em definitivo. Já começa inclusive a avaliar se vale a pena esse sacrifício. Também se mostrou muito chateado pelo fato de o DEM ser o único partido no qual alguns integrantes fazem barulho contra ele. Paulo Octávio tem dito a interlocutores que, até o momento, nem mesmo o PT se manifestou contra sua interinidade.

Planalto Desde a última sexta-feira,Paulo Octávio aguarda ser recebido pelo presidente Lula. Ontem, apesar de a audiência não estar prevista na agenda palaciana, passou o dia à espera de um telefonema para ir ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde o presidente despacha. Oficialmente, a assessoria de Lula informou que a agenda do presidente sofreu atrasos, o que inviabilizou a reunião.

No entanto, dois fatos desmontam essa versão. Primeiro, Lula esteve ontem nas obras de reforma do Palácio do Planalto, visita quenem sequer constava de sua agenda oficial. Segundo, o incômodo provocado por um grupo de estudantes que se manifestou no CCBB, onde não existe uma entrada privativa ¿ para chegar ao local, Paulo Octávio seria visto pelos manifestantes e também pela imprensa.

O grupo de 20 estudantes levou faixas pedindo a saída do governador afastado José Roberto Arruda e um bolo com uma carta ao presidente. No documento, eles pedem que o presidente não receba Paulo Octávio em audiência. ¿Diga-me com quem andas e eu direi quem és¿, escreveram os estudantes na carta.

Diga-me com quem andas e eu direi quem és

Trecho da carta encaminhada por manifestantes ao presidente Lula

Colaborou Daniel Pereira

Dois acusados fazem pedido por cela especial

Renato Alves Saulo Araújo Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Cinco suspeitos de suposta propina estão presos na ala federal do Complexo Penitenciário da Papuda

Dois dos cinco presos sob acusação de corrupção de testemunha e falsidade ideológica entraram ontem com pedido de transferência para cela especial. Detidos no Complexo Penitenciário da Papuda desde o último dia 12, Antônio Bento e Haroaldo Brasil de Carvalho alegam ter direito ao benefício por possuírem curso superior.

Antônio Bento é conselheiro do Metrô do Distrito Federal. Já Haroaldo Brasil de Carvalho é ex-diretor da Companhia Energética de Brasília (CEB). Ambos foram presos por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Agora, cabe ao STJ decidir sobre a transferência de ambos para cela especial.

Na Papuda, além de Antônio Bento e Haroaldo de Carvalho, estão o suplente de deputado distrital Geraldo Naves e o ex-secretário de Comunicação do DF, Weligton Moraes. O governador afastado do DF, José Roberto Arruda, está em uma sala da Superintendência da PF, no Setor Policial Sul.

A denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e da subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, dão conta que Arruda, por meio de intermediários, teria oferecido dinheiro ao jornalista Edson Sombra para que ele afirmasse, em depoimento à Polícia Federal no inquérito da operação Caixa de Pandora, que os fatos investigados teriam sido criados por Durval Barbosa para prejudicar o governador do Distrito Federal.

Geraldo Naves teria sido o primeiro intermediário de Arruda junto a Edson Sombra. Em meados de janeiro, ele teria sido substituído nas negociações por Weligton Moraes. Antônio Bento da Silva foi o terceiro emissário de Arruda. No último dia 4, ele foi preso em flagrante ao fazer um pagamento de R$ 200 mil a Edson Sombra. O ex-secretário do governador, Rodrigo Diniz Arantes, é apontado como o intermediário entre Arruda e Bento da Silva. De acordo com a denúncia, foi ele que entregou o dinheiro ao conselheiro do Metrô, um dia antes do encontro marcado com Sombra. Já Haroaldo Brasil de Carvalho também teria auxiliado os contatos de Arruda com Antonio Bento da Silva.

Visitas Amigos e familiares do ex-secretário Weligton Moraes e de Geraldo Naves tentaram visitá-los ontem na Papuda, mas não conseguiram. Ambos estão em celas individuais da ala reservada aos presos da Polícia Federal. Cada uma tem menos de 10 metros quadrados, e todas são desprovidas de chuveiro com água quente e tampas nos vasos sanitários. Também não há regalias quanto à alimentação. Toda a comida servida é a mesma dos outros presos federais. Na mesma ala estão detidos Haroaldo Carvalho, Rodrigo Arantes e Antônio Bento. Os advogados de Weligton Moraes já entraram com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal.

O que pesa contra eles?

Antônio Bento: O servidor aposentado foi flagrado pela Polícia Federal ao tentar entregar R$ 200 mil ao jornalista Edson Sombra, supostamente a mando de Arruda como suborno para se proteger das investigações sobre o esquema de corrupção no Distrito Federal.

Geraldo Naves: O suplente de deputado é acusado de envolvimento em tentativa de obstruir a Justiça nas investigações do esquema de corrupção. Ele chegou a ser considerado foragido da Justiça por não se apresentar no dia em que teve sua prisão decretada. Naves também teria sido o mensageiro de um bil1hete escrito por Arruda que tinha como destinatário Sombra.

Rodrigo Arantes: O ex-assessor particular de Arruda seria o responsável por repassar o dinheiro do suborno a Antônio Bento, que o entregaria a Sombra. Ele também seria a ponte entre Bento e Arruda.

Weligton Moraes: É apontado como o intermediador da tentativa de suborno a Sombra.

Haroaldo Brasil: Sua missão, segundo o entendimento dos investigadores, seria auxiliar os contatos de Arruda com Antônio Bento.

Os quatro foram indiciados por falsidade ideológica e tentativa de suborno