Título: 2010 concentra inaugurações do PAC
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 06/02/2009, Política, p. A7

A menos de seis meses do primeiro turno das eleições presidenciais, em outubro de 2010, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá uma sequência de inaugurações de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para alavancar a eventual candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sua sucessão. Somente nas áreas de habitação e saneamento está prevista, de março a setembro do próximo ano, a conclusão de projetos em 29 centros urbanos, com benefícios potenciais a 1,17 milhão de famílias, segundo estima o próprio PAC.

Se for mesmo candidata ao Palácio do Planalto, Dilma ficará impedida pela legislação eleitoral de participar das inaugurações. Para observadores do cenário político, no entanto, essas cerimônias vão aumentar o potencial de transferência de votos de Lula para Dilma, já devidamente identificada como "mãe do PAC", nas comunidades privilegiadas.

Em projetos habitacionais, haverá inaugurações em 13 áreas urbanas diferentes, com 235 mil famílias beneficiadas. Os projetos têm sido tocados em conjunto com prefeituras e governos estaduais. A maioria das obras está em andamento. Na favela de Paraisópolis, em São Paulo, o programa de reurbanização abrange 22,5 mil famílias e deverá ser concluído em 17 de setembro de 2010, a menos de um mês do primeiro turno. A favela está sendo alvo de uma megaoperação policial nesta semana. O Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, terá sua reorganização urbanística - que inclui a implantação de teleférico integrado à malha de transportes - concluída no dia 30 do mesmo mês, segundo as últimas estimativas da Casa Civil.

O cientista político Murilo Aragão, da Arko Advice, acredita que o término de obras do PAC às vésperas das eleições poderá beneficiar a eventual candidatura de Dilma. Mas isso, isoladamente, não a colocará ou deixará de colocá-la no segundo turno, de acordo com o analista. "A essa altura da campanha, se ela estiver dependendo de uma inauguração para crescer nas pesquisas, estará mal", observa Aragão.

Para ele, as pessoas já veem em Dilma o rótulo de gerente e executora do PAC. Mesmo sem a sua presença nas cerimônias, portanto, deve haver identificação das obras com a provável candidata do PT à presidência. Nas localidades mais pobres, avalia o cientista político, o impacto tende a ser maior. Inaugurar obras, porém, não é suficiente. "Eleições são como cardápio de churrascaria: é preciso ter vários pratos sobre a mesa. Estrutura política, apoio dos partidos aliados e governo unido em torno da candidatura são fatores muito importantes."

Além dos projetos habitacionais, o capítulo de infraestrutura social e urbana do PAC prevê a inauguração de obras de saneamento (água e esgoto) em 16 cidades de grande ou médio porte, com benefício para 935 mil famílias. Em Corumbá (MS), investimentos federais de R$ 54 milhões, em parceria com o governo do Estado, vão ampliar o sistema de esgotamento sanitário e elevar o atendimento para 90% da população local. O conjunto de obras - redes coletoras, ligações domiciliares e estações de tratamento de esgoto - deverá ser concluído em abril de 2010.

No fim de junho, conforme a previsão do PAC, terminará a expansão da linha 1 do metrô de Belo Horizonte - com cinco estações, dois terminais de integração e modernização de trens. Para a mesma semana, estima-se o término das obras do Expresso Tiradentes, o corredor exclusivo de ônibus que agilizará o transporte do parque Dom Pedro à zona leste de São Paulo. São R$ 397 milhões de investimentos, em parceria com a prefeitura da capital.

"Se a ministra conseguir transformar o programa de obras do governo em algo bem-sucedido, ela se beneficia", opina o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), apontando atrasos e falhas nos cronogramas. Para ele, o PAC deve ser "um anabolizante" na candidatura de Dilma, mas ela precisará "mostrar o currículo, a capacidade dela" quando a campanha realmente começar. Aleluia avisa que a oposição está vigilante para não permitir que as inaugurações nos meses anteriores às eleições se tornem atos de campanha, mesmo com a ausência de Dilma no palanque. "O presidente Lula terá que tomar muito cuidado", afirma o parlamentar.

Na parte de infraestrutura logística, o ano de 2010 deverá ser cheio de inaugurações. Nas previsões estão o Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, as eclusas de Tucuruí (PA), a usina térmica de Candiota III (RS) e as hidrelétricas de Estreito (MA/TO) e Foz do Chapecó (SC). Em abril, deverá entrar em operação o campo de Mexilhão, na bacia de Santos, que produzirá 15 milhões de metros cúbicos de gás por dia - um dos mais promissores do país.

O governo espera concluir a primeira parte do projeto de transposição do rio São Francisco - o Eixo Leste - em dezembro de 2010. Ontem mesmo, a própria Dilma e o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, cotado para vice numa chapa PT-PMDB, visitaram o canteiro de obras da transposição em Salgueiro (PE). Dilma e Geddel cobraram das empreiteiras mais rapidez nas obras, o que pode antecipar o cronograma, e garantiram que não faltarão recursos.