Título: Crédito de US$ 2 bi para navios de óleo
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2009, Finanças, p. C1

Em meio à paralisia no mercado de empréstimos externos ao Brasil, duas empresas estão em fase avançada na montagem do financiamento para a construção de navios-sonda licitados pela Petrobras no ano passado: a Odebrecht e a Etesco. Os US$ 500 milhões em recursos na forma de capital para os projetos que serão desembolsados pelas empresas e sócios patrocinadores já estão disponíveis, o que contribui com a obtenção de US$ 2 bilhões na forma de dívida dos bancos e das agências de crédito à exportação dos governos.

A Odebrecht Óleo e Gás vai usar caixa próprio como capital no projeto de construção de dois navios-sonda pela coreana Daewoo. Precisa de US$ 1,3 bilhão em financiamento. A transação, ainda em andamento, merece ser acompanhada de perto, pois será um marco no mercado de empréstimos externos, definindo os novos parâmetros para o Brasil pós-quebra da Lehman Brothers. Será a primeira grande transação internacional realmente levada para a venda de forma mais ampla no mercado de bancos internacionais desde então. Não está descartado um "club deal", no qual todos os bancos participantes são líderes.

A empresa já visitou bancos nos Estados Unidos e Europa em companhia do Santander, BNP Paribas e Société Générale e a resposta tem sido positiva. Cada instituição pode participar com US$ 50 milhões, US$ 75 milhões ou US$ 100 milhões até cerca de US$ 650 milhões. O prazo de vencimento é de dez anos e os prêmios de risco vão de 300 a 375 pontos básicos sobre a Libor, taxa interbancária de Londres. O prêmio de risco de crédito sobe ao longo dos anos. Para comparação, em estrutura semelhante, fechada em agosto do ano passado, a Queiroz Galvão pagou de 140 a 175 pontos básicos. A mesma Odebrecht em 2007 pagou de 100 a 200 pontos básicos.

Os US$ 650 milhões restantes deverão vir de agências de crédito à exportação governamentais. A Giek, do governo da Noruega, deve entrar com US$ 300 milhões, visto que a National Oilwell Varco (NOV) é a maior produtora de equipamentos para perfuração e o governo norueguês quer estimular a venda do produto em meio à recessão. O Kexim, o banco de estímulo à exportação do governo da Coréia do Sul, quer estimular os negócios da Daewoo e vai entrar com outros US$ 300 milhões. A finlandesa Finnvera também avalia se vai participar do financiamento do projeto. O risco de construção dos navios - nos dois primeiros anos - deverá ser coberto pelas agências dos governos.

Depois desses dois anos, os bancos têm como garantia os próprios navio-sonda, por meio de hipoteca. Também o contrato de aluguel que será pago pela Petrobras para o uso dos navios serve como garantia no empréstimo externo, reduzindo o risco para os credores.

Já a Etesco está ainda em fase mais avançada para obter os cerca de US$ 650 milhões para a construção de um navio-sonda de petróleo pela Samsung por meio de um "club deal". Cerca de US$ 380 milhões dos bancos virão dos três maiores bancos japoneses - Sumitomo Mitsui, Tokyo-Mistsubishi e Mizuho -, além dos europeus ING, Société Générale e Standard Chartered. Os prêmios de risco pagos ficarão entre 325 a 350 pontos básicos. A Giek vai entrar com um crédito total de US$ 270 milhões.

Inicialmente a Etesco contava com a participação da GE Capital como sócia. Mas a americana deixou o projeto e agora os principais sócios são as japonesas Nippon Yusen Kaisha, com 33,7%, a Mitsui, com 21,8% e a Kawasaki Kisen Kaisha, com 20%. A Mountrose Investments tem participação de 11,8%, a Mike Mullen Energy Equipment Resourses, de 11,7%. A Japan Drilling Company entrou com participação de 1%.

A brasileira Petroserv, segundo o mercado, contratou a Daewoo para construir o navio-sonda que vai alugar para a Petrobras e já desembolsou os 30% dos US$ 750 milhões necessários para a fase de construção. Parte disso veio por meio de capital da Petroserv e parte por meio de um empréstimo-ponte do Unicredit e do WestLB.

Agora, a Petroserv renegocia com os dois bancos mais o Standard Chartered a ampliação do empréstimo-ponte até o final da fase de construção, que dura de dois a três anos. Com isso, a empresa ganha tempo e só precisa terminar a montagem do financiamento do projeto propriamente dito daqui a dois ou três anos, quando, esperam todos, as condições do mercado deverão estar melhor.

Entre as vencedoras da licitação feita no ano passado para a construção das 12 plataformas e navios a serem alugadas pela Petrobras, a Delba é que está com o financiamento do projeto em fase mais atrasada. Tem de levantar recursos em mais de US$ 3 bilhões para dois navios sonda e três plataformas e negocia com sócios para tentar levantar o capital disponível. O financiamento dos projetos ainda não tem banco líder definido, embora o WestLB venha negociando com a empresa participação nos empréstimos para a construção dos dois navios-sonda.

A norueguesa Sevan Marine também já conseguiu US$ 1 bilhão de dois bancos no exterior para a construção de duas plataformas semissubmersíveis, uma para alugar para a Petrobras no Brasil licitada em 2008. A outra norueguesa Scorpion desistiu do projeto por falta de crédito e devolveu a plataforma para a Petrobras.