Título: PMDB recua e defende Múcio para conter apetite petista por cargo
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/05/2009, Política, p. A6

A tensa reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a cúpula do PMDB, realizada na noite de segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil, foi além da simples disputa por cargos de afilhados dos pemedebistas demitidos na Infraero e em outros setores da administração pública federal. O encontro refletiu a tumultuada relação do PT, PMDB e governo federal, evidenciou as dificuldades em formar palanques estaduais nos principais Estados e expôs a disputa renhida de petistas e tucanos para terem o maior partido do país como parceiro preferencial nas eleições de 2010.

A ausência do ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, no encontro, também revela outro sintoma: apesar de bem visto pela maior parte dos partidos da coalizão - exceção feita ao PT, que quer substitui-lo por um petista - Múcio, na opinião dos presentes à reunião, não tem desenvoltura política suficiente para apaziguar os ânimos.

Segundo depoimentos de um pemedebista e um petista, só o presidente Lula poderá fazer com que os dois maiores partidos do governo cheguem ao consenso. "Lula terá que chamar as lideranças políticas que avalizaram sua reeleição para definir como será a própria sucessão", declarou um integrante do diretório nacional do PT.

Mas a dificuldade de Múcio para transitar neste fogo cruzado provoca reações diversas nas duas legendas. O PT, que desde o início do governo Lula sempre achou que o cargo de coordenação política lhe é de direito, resolveu voltar à carga contra o petebista. Por isso, tenta convencer o presidente de que Múcio deve ser indicado para suceder Marcos Vilaça no Tribunal de Contas da União (TCU), deixando a favorita do presidente, a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, onde está.

Alguns petistas do Congresso espalham que Múcio, cansado das pressões do cargo, estaria disposto a aceitar uma possível indicação para o tribunal. E até apontam um candidato para seu lugar: o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP). Lula resiste. Além de manter o apoio à Erenice, braço direito de Dilma, o presidente aprova o trabalho de Múcio e sabe que o PT no cargo de coordenação só aumentaria as dificuldades com os aliados. "Lula não dá o mínimo espaço para que o PT cogite voltar à coordenação", reconhece um petista bem situado na máquina partidária.

O PMDB se fecha no apoio ao petebista, não reclama dele, em uma estratégia para livrá-lo da pressão do PT. Depois do encontro com Lula, o partido cerrou fileiras ao lado de Múcio. "Ele é "imexível"", elogiou o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). "Ele é nosso ponto de equilíbrio nas duas Casas. Seria até uma honra se ele quisesse vir para o PMDB, mas não me consta que isto vá acontecer", completou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR).

Além de brigarem entre si, as duas legendas enfrentam profundas divisões internas. O PMDB do Senado reclama que não tem sido ouvido pela cúpula do governo - e usa a demissão de Oscar Jucá, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de um cargo da Infraero, para justificar a queixa -; e dizem ao presidente que são mais fiéis que o grupo da Câmara, que, segundo os senadores, "estaria se assanhando com as investidas pró-Serra realizadas por Orestes Quércia".

Deputados pemedebistas dão espaço às intrigas: "São os mesmos velhos personagens, em busca de mais espaço, utilizando os mesmos velhos métodos de fazer política", diz um deles.

Mesmo desejando o cargo do ministro José Múcio, nem todos no PT estão tão certos se a permanência de Erenice na Casa Civil é um bom negócio. Ela é pessoa de confiança da ministra Dilma, a segunda na hierarquia da Pasta e a que tem melhor trânsito junto ao presidente para negociar projetos importantes na ausência da ministra. Com a doença e o tratamento a que vai se submeter, Dilma tenderá a diminuir seu ritmo de trabalho, o que tornaria necessária a presença de Erenice no lugar em que está.

Por isto, o PT não descarta pressionar para controlar a coordenação, deixar Múcio sem cargo e impulsionar Erenice para a vaga do TCU, apostando na resistência ao nome dela no Congresso.

Na cabeça da oposição, Erenice será sempre a articuladora do dossiê dos cartões corporativos. Até o PMDB poderia brecar a indicação, por razão diversa: líderes como Renan Calheiros (AL) não engoliram ainda o veto dos petistas ao senador Luiz Otávio (PMDB-PA), que também almejava uma vaga no TCU.

A Infraero também foi motivo de queixas e discussões. No encontro com Lula, os pemedebistas defrontaram-se com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que instituiu a nova política para a Infraero, e não arrefeceram os ataques. Jucá reclamou que a cúpula do partido deveria ter sido avisada das mudanças na estatal. "Não vou entrar no mérito das mudanças, mas no do método. Jobim agiu como o PT", reclamou um senador. O ministro tentou se explicar ao presidente, expondo as razões técnicas. "Jobim, isto a gente conversa depois. O que estamos analisando aqui é um problema político", respondeu o presidente.