Título: Fazenda e BC admitem recessão técnica
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2009, Brasil, p. A3

A produção industrial de março era o número que faltava para o governo concluir que o Brasil entrou em recessão técnica no primeiro trimestre. "Para quem gosta de símbolos, tenho pouca dúvida que isso ocorrerá", afirma uma fonte do governo. Mas a avaliação, tanto no Ministério da Fazenda quanto no Banco Central, é de que a economia já entrou em recuperação a partir do segundo trimestre.

"Sim, muito provavelmente teremos um recessão técnica", diz uma outra fonte do governo, referindo-se ao conceito mais difundido para declarar uma recessão - a sequência de dois trimestre seguidos de retração do Produto Interno Bruto (PIB). No quarto trimestre de 2008, o PIB recuou 3,6%, quando comparado com o período imediatamente anterior

Com os números da produção industrial, que registraram retração de 14,7% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, o Ministério da Fazenda irá refazer seus cálculos sobre a expansão do PIB para 2009. A projeção atual, de alta de 2%, deverá ser revista para um número um pouco menor, mais próximo do 1,2% projetado pelo Banco Central.

O número calculado pela Fazenda serve para para balizar as projeções orçamentárias, dando suporte às estimativas de arrecadação e de gastos. Além disso, é uma espécie de meta que indica quanto o país pretende crescer com as medidas anticíclicas. O erro de projeção da Fazenda se deve à subestimação da queda da economia no primeiro trimestre. Mas não há dúvida de que, após sofrer forte recuo, a economia voltou a crescer, embora partindo de patamar mais baixo.

Com o ritmo atual, na visão da Fazenda, a economia poderá crescer a uma velocidade de cerca de 4% no último trimestre de 2009, comparado com o mesmo período do ano passado. O número do último trimestre será alto porque a base de comparação é baixa - a economia recuou no último trimestre de 2008. Os dois trimestres seguidos de queda devem, porém, prejudicar o PIB deste ano, quando forem calculados os valores médios. Mesmo assim, não haverá retração na economia, aposta a Fazenda.

A queda do PIB no primeiro trimestre significa que, na entrada de 2010, haverá um "carry over" importante, ou seja, um efeito estatístico que irá contribuir para uma maior taxa de expansão. Por isso, a Fazenda considera pessimistas as projeções do mercado financeiro, que preveem uma expansão do PIB de apenas 3,5% no próximo ano, segundo a pesquisa Focus do BC, que reúne cerca de 100 analistas.

O governo enfrenta o desafio de gerenciar expectativas negativas sobre o crescimento do PIB. O Brasil entrou em recessão técnica no primeiro trimestre, mas o número só será divulgado oficialmente em junho, quando a economia já estará em expansão.

Ontem, o presidente do BC, Henrique Meirelles, disse considerar que há pessimismo nas projeções feitas pelo mercado para o desempenho do PIB neste ano, que apontam uma retração de 0,3%. "Achamos que o mercado está um pouquinho pessimista em relação a essa previsão", disse Meirelles, em teleconferência para empresários da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs). A última projeção feita pelo BC, de 1,2%, foi divulgada em março, e a próxima projeção será conhecida em junho.