Título: Governistas buscam isolar DEM e PSDB na investigação
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 20/05/2009, Política, p. A7

Na disputa pelo comando da CPI da Petrobras, o governo ameaçou isolar a oposição, deixando apenas PT e PMDB no controle da relatoria e da presidência da comissão. Com receio de ter seu poder esvaziado, PSDB e DEM ameaçam transformar a investigação em um palco de escândalos e negociam a indicação do senador Antonio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA) para presidir a investigação.

O governo escalou o ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, para negociar as indicações dos integrantes da CPI. Após a reunião com líderes partidários, o clima era de que a oposição ficaria isolada. A grita do PSDB e DEM, entretanto, foi imediata. " Se não participarmos dos trabalhos as críticas serão mais exarcebadas " , disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). " Vamos criar outras formas de sermos ouvidos " . Na noite de ontem, líderes dos partidos governistas já admitiam a possibilidade de o DEM presidir a CPI.

Segundo integrantes da cúpula do DEM, foram as conversas com o PTB e o PMDB - em especial com Gim Argello (PTB-DF) e Renan Calheiros (PMDB-AL) - que acalmaram os ânimos da oposição. Os dois partidos, além de DEM e PSDB, seriam os maiores fiadores de ACM Jr, considerado um quadro " equilibrado " e " com bom trânsito " entre os partidos.

O PT negociava com o PMDB a indicação do presidente ou do relator, mas caso se confirme o DEM no comando da CPI, o PT não pretende abrir mão de um cargo. Da base governista, um nome é certo: o do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL). O PT deve indicar Aloizio Mercadante (SP) - que ficaria com a relatoria - e a líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti. Caso ela não seja indicada, o mais cotado é Delcídio Amaral (MS). A oposição tem três das onze vagas na comissão. Na negociação entre PSDB e DEM ficou acertado que os tucanos indicarão nomes de peso do partido: Álvaro Dias (PR) e Tasso Jereissati (CE). O senador Sérgio Guerra (PE), presidente do partido, ficará na suplência. O DEM indicará Heráclito Fortes (PI) para a suplência.

A oposição argumenta que as indicações da relatoria e da presidência das comissões seguem um acordo informal, no qual o governo e a oposição dividem poder. A indicação de um quadro do DEM é considerada a melhor opção entre os partidos da oposição, segundo integrantes da base aliada, para evitar danos ao Palácio do Planalto. Os senadores do DEM têm demonstrado mais cautela sobre as investigações da CPI do que os tucanos. Petistas lembram também que o o filho do líder do partido no Senado, José Agripino (RN), é sócio de uma empresa com contratos com a Petrobras.

A oposição já definiu sua estratégia: investir em denúncias contra patrocínios feitos pela Petrobras e acusações de financiamento ilícito de campanha de petistas e de aliados pela empresa. Parlamentares da oposição pretendem mostrar na CPI que a Petrobras foi loteada por petistas e sindicalistas e que eles foram beneficiados em suas campanhas por caixa 2.

O governo prevê que os trabalhos da CPI comecem apenas na semana que vem. O PMDB ainda não havia indicado os três nomes a que tem direito e pretende negociar com o governo até o início da CPI quem indicará. Um recado é certo: aliados de Renan avisaram os governistas que o PMDB indicará nomes fiéis ao partido, não ao governo. Dessa forma, a indicação do líder do governo, Romero Jucá (RR), poderia ser vetada, apesar da disposição dele de integrar a CPI.

Renan fez chegar a José Múcio Monteiro que não é tarefa do PMDB impedir ou facilitar instalações de CPI. Só aumenta a fatura do PMDB e ela não passa simplesmente pelo número de cargos. O partido quer deixar claro que, sem ele, o governo trava no Senado. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), não deixou de participar das articulações e reuniu-se ontem com Renan Calheiros e Gim argello. Mas, assim como Renan, deve manter-se naos bastidores da condução da CPI.