Título: Pemedebistas reforçam cacife para 2010
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/05/2009, Política, p. A7

entre o PT e o PMDB, que se intensificaram após a criação da CPI da Petrobras, têm como pano fundo as dificuldades das duas legendas em estabelecer alianças estaduais, além da ocupação de cargos na administração pública federal. As eleições só acontecerão em outubro de 2010, mas o estresse entre os dois maiores partidos governistas é evidente. "Como principais partidos da coalizão, precisamos ter uma relação transparente e leal. O quadro é complicado, mas esta construção precisa ser feita", defendeu o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Em Estados como Rio Grande do Sul, Pernambuco e São Paulo, a aliança já foi descartada. Mas as conversas em andamento na Bahia, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo, esbarram na indisposição de algumas lideranças locais para ceder espaços políticos. Alves deixou claro que os senadores - incluindo os pemedebistas - terão toda a responsabilidade durante a CPI para não prejudicar a principal empresa estatal do país. Mas deu um recado para os petistas: é preciso ser mais maleável nos Estados onde PT e PMDB almejam ter candidatos aos governos. "Eles [os petistas] querem que a nossa convenção decida o apoio à chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Nós também queremos. Mas os votos da convenção nacional também refletem as realidades regionais", alertou Henrique Alves.

A situação provoca constrangimentos no PT. Para os petistas, apesar de a pressão feita pelo PMDB ter resultado em mais espaço, o partido continua insatisfeito. "Há quem comece a acreditar que eles [pemedebistas] estão ensaiando o bote para nos trair", declarou um petista.

A preocupação segue uma linha de raciocínio segundo a qual o PMDB testaria até o limite a capacidade de o governo fazer concessões, quando, então, mudaria de lado. Dentro do PT não há dúvidas de que o PMDB pode até mesmo decidir não fechar alianças com ninguém nacionalmente para negociar com o vencedor de 2010.

Para um integrante do Diretório Nacional, o PT e o governo foram obrigados a engolir " sapos atrás de sapos " , como a pecha de que os petistas "são egoístas e intransigentes na composição das alianças estaduais". Enquanto reclamava do partido e do presidente da República, o PMDB ampliou seus espaços na Esplanada, nas estatais, elegeu os presidentes da Câmara e do Senado. E não parou por aí. " O Renan [Calheiros, líder do PMDB no Senado) foi ao presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva] na segunda fazer fofoca do [Aloizio] Mercadante [líder do PT na Casa]. Lula escolheu ficar ao lado do Renan. Vamos ter que engolir em seco, mais uma vez " , reclamou o petista.

Mercadante, que depois das queixas de Renan falou com Lula ontem pessoalmente, minimizou as divergências, atribuindo-as ao contexto do Parlamento. " O presidente Lula não está preocupado com estas divergências porque sabe que a democracia se constrói a partir delas. É bom que elas aconteçam? Não. Mas o resultado final acaba sendo positivo " , defendeu Mercadante.

Outros petistas também transferem para as eleições de 2010 a justificativa para o péssimo momento vivido pelos dois partidos no relacionamento político. Mas nada relacionado com a possível intransigência nos palanques estaduais. " Quinze senadores, a maioria sem expressão, vão tentar a reeleição no ano que vem. E precisam de um palanque para brilhar " , analisa um parlamentar.

Enquanto PT e PMDB não se entendem, o governo busca manter-se alheio às divergências. A avaliação de ministros próximos ao presidente é que há pouco a fazer além de deixar que Renan e Mercadante se entendam por si só. Também consideram simplista demais a desculpa dos palanques regionais, pois apostam que, na maioria dos casos, PMDB e PT estarão juntos. A novidade seria uma só: o retorno de Renan à cúpula do Senado. " Ele saiu de cena para não ser cassado e agora retornou, disposto a reconquistar a força e o prestígio político na Casa " , afirmou um auxiliar de Lula.