Título: Mantega, afinado com Meirelles, quer elevar reservas
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2009, Brasil, p. A3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, adotou ontem tom conciliatório com o Banco Central sobre a recente valorização da taxa de câmbio, vinculando-a a um movimento global de desvalorização do dólar. Ele falou ontem durante quase quatro horas no Senado e garantiu que o governo não cogita mudar o regime de câmbio flutuante. O mercado, disse ele, já vem sendo enxugado com aquisições de reservas feitas pela autoridade monetária. "O BC já vem comprando e poderá comprar muito mais", comentou, acrescentando que o atual momento de desvalorização do dólar recomenda um novo salto nas reservas, hoje em US$ 205,04 bilhões.

Nos bastidores, fontes tanto do BC quanto da Fazenda afirmaram que há afinamento entre a Fazenda e o BC sobre a política cambial. Eventuais declarações em contrário seriam originadas de auxiliares de uma casa e da outra que têm sua própria visão sobre o assunto, mas não expressariam a opinião nem de Mantega nem do presidente do BC, Henrique Meirelles.

Na quarta-feira, Meirelles também havia dito aos senadores que, no pico da crise econômica mundial, no ano passado, o BC interrompeu a compra de reservas, mas, agora, essa estratégia foi retomada. Mantega fez uma detalhada apresentação aos parlamentares e ressaltou que, nos últimos três meses, a variação do real frente ao dólar foi de 17,66%. Nesse período, o euro também teve sua cotação elevada em 9,29% sobre a moeda americana. No caso da libra, o crescimento foi de 10,3%. Das moedas mais relevantes, apenas o iene desvalorizou-se 1,15% frente ao dólar.

O ministro da Fazenda reconheceu que, apesar de a valorização da moeda prejudicar a competitividade das exportações, há também um aspecto positivo nesse movimento. Para Mantega, isso mostra que o país também tem qualidades e segurança que atraem os investidores. Informou que, em maio, o fluxo cambial é positivo. Na véspera, Meirelles também argumentou que há um fenômeno mundial de desvalorização do dólar não relacionado ao real.

Entre os economistas com peso no governo, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, indicou, na quarta-feira, uma preocupação com o câmbio maior do que a manifestada por Mantega e Meirelles e defendeu uma atuação mais firme do Banco Central. Na visão de Coutinho, a recente valorização do real é um problema e o BC tem de encontrar formas de esterilizar a forte entrada de dólares ocorrida nas últimas semanas. Ele também disse que o mercado brasileiro de ações vive uma "minibolha" e o governo precisa evitar que essa onda de dólares comprometa a sobrevivência dos exportadores.

Meirelles, na mesma quarta-feira, rejeitou a adoção de travas à entrada de capitais no país porque, na sua avaliação, o fluxo cambial inverteu-se pela retomada das captações de empréstimos externos pelas empresas, ingressos na bolsa e investimento estrangeiro direto.

Para 2010, informou o ministro, o governo espera um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3% a 4%, estimativa inferior aos 4,5% previstos na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Mesmo reconhecendo que o PIB do primeiro trimestre será negativo, Mantega disse aos senadores que, a partir de março, a economia vem mostrando sinais de recuperação.