Título: Para Langoni, o pior passou e é preciso pensar no pós-crise
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2009, Brasil, p. A3

O pior da crise já passou, como comprovam os indicadores antecedentes de índice de confiança dos consumidores de países desenvolvidos como Japão, Estados Unidos e países europeus, que estão mais otimistas, afirmou Carlos Langoni, presidente do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que coordena hoje o seminário "Comércio e Finanças: os desafios da crise mundial", apoiado pelo Valor, em cooperação com o Banco Mundial em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).

O seminário, como explica o ex-presidente do Banco Central, vai discutir principalmente o pós-crise. "Hoje a recessão tem um formato de U, apontando para uma recuperação no segundo trimestre de 2010 e não de L como supunham alguns economistas prevendo a duração do ambiente recessivo por três anos", afirmou. Mas assinala que a retomada da economia global não nos elevará aos patamares de crescimento anteriores à crise. "Crescimento de 5% ao ano, exuberante, não vai se repetir. O mundo pode crescer 3% ao ano, num processo de redução do endividamento de empresas e consumidores mais cautelosos e prudentes em assumir dívidas junto ao sistema financeiro", disse.

O cenário desenhado por Langoni no pós-crise é de um mundo diferente do passado, onde o desempenho de países emergentes vai compensar a recessão de países desenvolvidos. Na recessão de 2001, o peso relativo do Brasil e da China não era tão significativo como é hoje. "A China, por exemplo, mesmo reduzindo sua taxa de crescimento este ano para 6% (ante 10% anteriormente) tem gordura fiscal suficiente e também monetária para agir rapidamente na aplicação de políticas anticíclicas, como o pacote de US$ 800 bilhões em infraestrutura, com impacto positivo na economia global."

No caso brasileiro, Langoni alerta que os limites a uma política fiscal expansionista são muitos. Mas considera que apesar de ter havido com a eclosão da crise uma forte e surpreendente queda da atividade industrial no país, a economia está resistindo bem. "A crise pegou o Brasil de forma diferente das anteriores. Ela se distingue das do passado pelo notável funcionamento do câmbio flexível, que atuou como amortecedor do impacto da crise". Langoni lembra que no início do tsunami financeiro houve uma maxidesvalorização de 50% (o câmbio saiu de R$ 1,55 para R$ 2,50). "Isto foi no pior momento", aponta. Depois, retomou um patamar menor e neste segundo trimestre de 2009 busca um nível de equilíbrio. "A tendência de valorização do real é um indicador antecedente importante para percepção de que o risco Brasil está voltando a normalidade. O Brasil vai ser fato um dos primeiros emergentes a sair da crise", pressagia.

O presidente do Centro de Economia Mundial da FGV prevê que o país vai superar todas as expectativas pessimistas e crescer perto de zero em 2009 (entre mais 0,5% a menos 0,5%). E retomar o crescimento mais expressivo em 2010. "Teremos um desfecho distinto das crises cambiais do passado". Pela primeira vez, diz, o Brasil convive com uma crise sem entrar em déficit comercial, com acúmulo de reservas e sem explosão de juros. E o mais importante, com menos volatilidade cambial. "O sistema financeiro nacional é sólido. Temos ativos que garantem ao país subir um degrau a mais no nível de investimento ainda este ano."