Título: Para Aécio, a probabilidade de Serra disputar é maior do que a dele
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2009, Brasil, p. A6

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, reconheceu ontem, pela primeira vez, que o governador de São Paulo, José Serra, tem mais chances do que ele para ser o candidato do PSDB à Presidência da República em 2010. Aécio fez a declaração, segundo a Agência Brasil, durante a gravação de um programa de entrevistas da TV Brasil, pertencente ao governo federal. O programa iria ao ar ontem, às 22h.

"A probabilidade de o Serra ser candidato hoje é maior do que a minha de ser candidato", disse o governador no programa. "Vou apoiar o candidato que as bases do meu partido escolherem. Se o Serra for candidato, serei o mais dedicado soldado do partido", acrescentou.

Segundo levantamentos do Datafolha e do Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), Serra lidera em todos os cenários, seguido da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a única concorrente que apresenta crescimento.

Depois da divulgação de pesquisas de opinião pública que registram queda em seu desempenho eleitoral, Aécio Neves reforçou ontem o tom de suas críticas ao governo do presidente Lula. Ele centrou as críticas no que chamou de "aparelhamento" da máquina pública e pregou de forma enfática a unidade partidária em 2010.

Aécio e o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reforçaram críticas feitas por Serra à "vulnerabilidade" da comunicação do partido. "Nós, tucanos, deveríamos ser melhores comunicadores. Vamos nos reinventar. Pode ser alguma coisa que o PT pode nos ensinar. Eles têm capacidade enorme de comunicação, nem sempre apropriada, nem sempre com recursos lícitos. O PT usa e abusa de recursos públicos", ironizou Guerra.

Aécio disse concordar com Serra. "Nós não somos muito bons de comunicação", reconheceu ao chegar ao fórum. Com discurso inflamado, o mineiro deu ânimo de comício a evento das mulheres do PSDB, em Brasília, no qual reinou sozinho, já que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador José Serra, de São Paulo, que eram aguardados, não compareceram.

Político mais festejado do I Forum Nacional do PSDB Mulher, Aécio fez um discurso ardente ao lado do senador Sérgio Guerra e da governadora Yeda Crusius (PSDB), do Rio Grande do Sul, que enfrenta denúncias de corrupção e ameaça de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Estado.

"Jamais, em qualquer tempo neste país, se viu um aparelhamento tão grande na máquina pública em favor de um partido político, em detrimento dos interesses da maioria da população. Nunca antes neste país se viu uma distribuição tão farta de cargos públicos, sem a mínima compreensão de que para ocupar uma função pública é fundamental ter conhecimento específico", afirmou.

O governador mineiro minimizou o salto de cerca de cinco pontos percentuais da ministra Dilma Rousseff, de março para maio, apontado pela pesquisas. Lembrou que ela sequer atingiu 30%, patamar mínimo potencial de um candidato apoiado pelo presidente. "Ela chegará a isso no fim deste ano. A partir daí, a luta é outra. O poder de influência do presidente Lula diminui muito e passa a contar apenas a imagem da candidata."

Sinalizando possível tendência de um acordo com Serra, o governador mineiro afirmou às mulheres tucanas que a unidade partidária é o instrumento mais importante para a vitória em 2010. "Ninguém quebrará a unidade do PSDB porque, acima de projetos pessoais, legítimos, está a nossa responsabilidade com o Brasil. Queremos vencer as eleições e vamos vencê-las juntos."

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso era aguardado no evento, que fez uma homenagem à sua mulher, Ruth Cardoso, falecida há um ano. O ex-presidente cancelou, no entanto, a sua participação, alegando "motivos pessoais". Ele enviou carta às mulheres tucanas, agradecendo a homenagem à mulher, cuja vida foi mostrada em vídeo.

Guerra e Aécio mostraram preocupação em responder às acusações sobre suposto interesse do PSDB em desestabilizar a Petrobras, feitas pelo PT em reação à CPI criada no Senado por iniciativa dos tucanos para investigar a empresa. O presidente do partido disse que as mulheres tucanas precisam ter argumentos para reagir a esses ataques.

Sérgio Guerra afirmou que, após a eleição do "governo populista" do PT, a empresa foi loteada entre partidos e sua diretoria passou a ser escolhida apenas com base em indicações políticas. "O aparelhamento da Petrobras não ficou apenas nas diretorias, que são loteadas entre partidos políticos com objetivos muitas vezes não republicanos." Guerra afirmou que o PSDB fará uma investigação "tranquila, segura e responsável".

O fórum também teve momentos de desagravo à governadora Yeda Crusius. Sérgio Guerra afirmou que a tucana foi corajosa ao fazer o ajuste fiscal no Estado e contrariou poderosos interesses. Disse que ela enfrenta "a pior oposição do mundo" e que "até a política russa opera no Estado".