Título: Rota Brasil-Ásia ignora a crise e mantém crescimento
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2009, Empresas, p. B9

Empresas de navegação que transportam cargas em contêineres já veem sinais de recuperação nos volumes exportados na rota Brasil-Ásia. A China continua a ser o principal motor de crescimento na região com importações de metais e aço, além de commodities como o minério de ferro embarcado em navios graneleiros. De janeiro a abril, houve crescimento de 9,5% no número de contêineres embarcados para a Ásia na comparação com o primeiro quadrimestre de 2008. No mesmo período, a importação de produtos asiáticos conteinerizados caiu 33,7%.

Os dados são da Datamar, consultoria em transporte marítimo. David Lorimer, diretor da Datamar, disse que a exportação de cargas em contêineres do Brasil para a Ásia estava estável desde o início de 2007, mas deu um pulo em março e abril como resultado da compra, pela China, de alumínio, produtos de cobre e papel e celulose, entre outros. "É como se a China estivesse formando estoques."

Os números da Datamar mostram que no primeiro quadrimestre a exportação em contêineres para a Ásia somou 106,9 mil TEUs (contêiner equivalente a 20 pés), 9,5% a mais do que os 97,7 mil TEUs de janeiro-abril de 2008. Na importação, o Brasil trouxe da Ásia 125,9 mil TEUs no primeiro quadrimestre, queda de 33,7% em relação aos 190,1 mil TEUs de igual período de 2008.

Dados da balança comercial brasileira confirmam a alta na exportação para alguns dos principais mercados asiáticos. De janeiro a maio, a exportação do Brasil para a China cresceu 34,3%, em valores, e para a Coreia do Sul, 7,7%. Já as importações brasileiras desses dois mercados caíram 20,9% e 29,4%, respectivamente, segundo o Ministério do Desenvolvimento (Mdic).

Taek Hwan Moon, presidente da coreana STX Brasil Trading, disse que a empresa de navegação do grupo, a STX Pan Ocean, manteve entre janeiro e maio os volumes de exportação de minério de ferro e aço para a Ásia em relação a igual período de 2008. Ele disse que um dos clientes, a ArcelorMittal Tubarão, está exportando placas de aço para a China. Segundo a STX, os preços dos fretes do minério para a Ásia recuperaram-se parcialmente em relação a 2008 e situam-se hoje na faixa dos US$ 40 por tonelada.

"A partir de março houve uma recuperação dos volumes de contêineres", diz Nelson Carlini, presidente da francesa CMA-CGM no Brasil. Este mês a empresa anunciou "restaurações" nos preços dos fretes entre a Europa e a Ásia, que poderão ser aplicados a partir de 1º de julho. "Restaurações" são tentativas de aumentar os fretes, mas o aumento depende da oferta de espaço nos navios e da demanda por transporte. A CMA-CGM tenta aumentar os preços dos fretes em US$ 300 por TEU, inclusive na rota entre a costa leste da América do Sul e a Ásia. Isso significa que, se o aumento for aceito, um frete na exportação, hoje na faixa de US$ 1 mil por contêiner, poderia subir para US$ 1,3 mil, alta de 30%.

Fonte do setor disse que este é um período do ano em que tradicionalmente os armadores tentar aumentar os preços dos fretes, mas em 2009, em função da crise, a situação é mais difícil. Antonio Carvalho, diretor da Lachmann, grupo que tem agência marítima e empresa de navegação, disse que os preços dos fretes para contêineres na importação da Ásia chegaram a US$ 2,5 mil por unidade de 20 pés antes do agravamento da crise, em setembro de 2008. "Agora esse valor caiu para US$ 500 por contêiner de 20 pés."

Julian Thomas, diretor superintendente da Hamburg Süd, também confirmou que a empresa negocia com os clientes aumentos nos fretes entre US$ 250 e US$ 300 por TEU. A tentativa das empresas de navegação de aumentar os preços dos serviços busca reduzir prejuízos causados pelo aumento de custos. O principal motivo foi a alta no combustível de navegação, o bunker. Companhias internacionais de navegação, com capital aberto em bolsa, registraram fortes quedas em volumes de carga e receitas no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado.

Segundo Thomas, o bunker superou, no ano passado, os US$ 700 por tonelada, posto em Roterdã. Mas no fim de 2008 atingiu US$ 165 por tonelada, acompanhando a queda no preço do petróleo. Agora, com a recuperação da cotação do petróleo, o bunker chegou, no fim de maio, em US$ 337 por tonelada em Roterdã.

Thomas previu que em 2009 as exportações de cargas em contêineres da costa leste da América do Sul para a Ásia poderão crescer na faixa de 2%, bem abaixo dos 10% de 2008. Mesmo assim, segundo ele, será um resultado melhor do que o esperado para o fluxo de cargas com Europa e Estados Unidos, que deverá cair dois dígitos. Na importação, ele previu que será possível recuperar parte da perda. Mesmo assim, as importações de produtos asiáticos em contêineres deverá fechar o ano com uma redução de 20% sobre 2008.

A japonesa NYK espera uma recuperação para o mercado de importação e exportação a partir do segundo semestre. Esse movimento se daria sobretudo na exportação, na medida que as novas safras, como a do algodão e açúcar, e produtos como papel e celulose comecem a ser embarcados. A NYK reestruturou seus serviços de contêineres, tanto para os EUA quanto para a Ásia. Nesse segmento, a empresa formou consórcio com novos parceiros no serviço já existente e ampliou o tamanho dos navios. "Passamos a ser um dos três maiores operadores dessa linha no país", disse a empresa em nota.