Título: PIB indica recessão suave ou crescimento ínfimo no ano
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 12/06/2009, Opinião, p. A8

A queda de 0,8% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre do ano, em relação ao último trimestre de 2008, indica que a economia brasileira já começou a se recuperar. Os números do PIB e indicadores setoriais após março apontam para uma reativação lenta e para as maiores chances de que haja algum crescimento em 2009. Na ausência de restrições nas contas externas, a recessão técnica atual é totalmente diferente das anteriores. A crise é importada e suas consequências foram mais sentidas na redução das exportações e no aperto forte e abrupto do crédito. Como os dados do IBGE mostram, não foi à toa que o desempenho da indústria, pelo lado da oferta, e dos investimentos, pelo da demanda, estão puxando as atividades econômicas para baixo.

Todas as maiores economias do mundo se contraíram no último trimestre do ano passado, inclusive Índia e China. A grande incógnita era a de se a crise se aprofundaria no primeiro trimestre de 2009, o que mostraria melhor sua intensidade e possível duração. Índia e China ainda estão crescendo, mas a recessão se agravou na maioria dos países desenvolvidos no primeiro trimestre. No Brasil, o fundo do poço foi atingido rapidamente e já se começa a sair dele, enquanto que agora, no fim do segundo trimestre, as principais economias dão sinais de que o período de contração está perto do fim e de que a recuperação pode ser vislumbrada no terceiro trimestre. Esta tendência não é absolutamente segura e a possibilidade de um novo período de turbulências permanece no horizonte.

A perspectiva global é importante porque ela define parte importante do comportamento da indústria brasileira, na qual as exportações são hoje uma fonte necessária de dinamismo e receitas. A indústria levou um tombo de 9,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2008 e de 3,1% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Pelo lado das vendas externas de manufaturados não é aconselhável esperar nenhum grande impulso, já que os principais mercados de destino estão comprando menos - o que vale tanto para a Argentina como para os EUA e a Europa. A China talvez continue sacudindo as cotações das commodities, embora não se saiba por quanto tempo.

No front doméstico, há uma recuperação lenta dos setores industriais menos dependentes de exportações e mais da força da demanda interna. O consumo das famílias, na comparação trimestre contra trimestre do ano anterior, mantém-se em alta por cinco anos consecutivos, ainda que tenda a perder força. Aumentos generosos do salário mínimo e a renda do Bolsa Família amorteceram os choques, mas o desemprego, se continuar crescendo por muito mais tempo, poderá tirar seu ímpeto propulsor. Abril foi o sexto mês consecutivo de queda do nível de emprego, segundo a CNI, e é possível prever que ela terminará logo - voltar a crescer é outra história - se o aumento da utilização da capacidade instalada continuar a subir, como ocorre desde fevereiro, e as horas trabalhadas na produção não declinarem, como se passa também desde aquele mês.

O quadro de recuperação lenta se forma com a perspectiva de um consumo das famílias que perde algum fôlego, uma recuperação nada vibrante da indústria e a retração significativa dos investimentos (-14% ante o primeiro trimestre de 2008). Sua forte redução deve ser considerada em relação ao surpreendente avanço na casa dos dois dígitos durante seis trimestres até o último trimestre de 2008. Há poucos motivos para uma reação imediata dos investimentos. Mas há outros que sugerem que há limites para sua queda. O volume de investimentos diretos externos tem sido melhor do que o esperado e os investimentos do PAC, aos trancos e barrancos, vem aumentando, enquanto que o custo interno do dinheiro caiu abaixo dos dois dígitos.

Medidas contracíclicas tomadas pelo Banco Central e pela Fazenda foram usados e comprovaram que não são panaceias, mas funcionam. Estímulos adicionais não devem se pautar pelas necessidades do calendário eleitoral. Seria importante concluir o processo de desoneração total das exportações, e reduzir a carga de impostos, mas o governo não pode fazê-lo com a queda da arrecadação e o aumento muito além do razoável na folha de salários pública.