Título: Política salarial de Lula é oposta a do governo tucano
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2005, Brasil, p. A4

O governo Luiz Inácio Lula da Silva não apenas aumentou o número de servidores nos dois primeiros anos de mandato, mas adotou uma política de remuneração diferente daquela montada na gestão tucana. O professor Nélson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da PUC, elogia o fato de o governo Lula ter deslanchado várias negociações no ano passado, envolvendo sindicatos dos trabalhadores, mas critica alguns pontos do quadro que vem sendo desenhado nos últimos dois anos. Ele questiona a política de remuneração. "O governo Lula deu início a uma política oposta à que estava sendo feita, achatando a remuneração dos cargos mais altos". Em sua opinião, "a hierarquia salarial está sendo desorganizada". Quando o presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu, em 1995, teve início uma política de recomposição salarial para o servidor público de nível mais alto. E o servidor de nível médio parou de receber aumentos, lembra Marconi, que nessa época foi trabalhar com o ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, no então Ministério da Administração e Reforma do Estado. O servidor de nível médio, que não ocupava cargo de chefia, na gestão do presidente Itamar Franco recebeu aumentos significativos e foi beneficiado com a queda da inflação, a partir de 1994, com o Plano Real. "Com a queda da inflação, o valor médio real do salário ficou alto", lembra o professor. O plano do governo FHC foi, então, melhorar o salário dos funcionários públicos de mais alto nível, para atrair gente do setor privado, mais capacitada. O governo Lula, para Marconi, dá sinais de que abandonou essa política. Ele também questiona as contratações que foram feitas. para ele, não havia necessidade, por exemplo, de contratar 6 mil técnicos administrativos na área de saúde, para os hospitais das universidades federais. "Essa área está inchada. Seria melhor ter remanejado o pessoal administrativo das universidades para os hospitais". A função administrativa num hospital não é muito diferente daquela exercida nas universidades. Já que não foram contratados médicos ou enfermeiras, a transferência teria sido a melhor opção. O diagnóstico da Secretaria de Recursos Humanos, quanto à remuneração, é diferente. Quando Lula assumiu não havia mais risco de a União perder pessoal qualificado para o setor privado e o pessoal de nível médio estava bem insatisfeito. O titular da secretaria, Sérgio Mendonça, em janeiro último, justificou assim mudança na política: "Não há governo que funcione só com a elite do funcionalismo. Era preciso cuidar também das carreiras de apoio". As contratações de técnicos pelo Ministério da Previdência nos últimos dois anos são um exemplo dessa avaliação do secretário. Em oito anos do governo FHC não foram feitas contratações de técnicos administrativos ou analistas da Previdência. Em 2003, ingressaram 731 e no ano passado mais 1.088, com salário de R$ 1.103,87. Para o cargo de analista, cujo salário é de R$ 1.470,21, foram contratados 612 em 2003 e 702 em 2004.