Título: Lula sai em defesa de Sarney e ataca denuncismo
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/06/2009, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o presidente do Senado, José Sarney, tem passado, portanto não pode ser tratado como uma "pessoa comum", em meio ao escândalo de atos secretos e acusações de nepotismo, mas não deu a receita do tratamento diferenciado que deve ser dado ao político e a pessoas comuns.

"Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim, e depois não acontece nada", afirmou Lula, antes de partir de Astana, capital do Cazaquistão, onde fez uma visita de um dia, mostrando-se visivelmente cansado.

"Eu penso que o Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", acrescentou o presidente.

Lula defendeu investigação, mas se mostrou surpreso com o escândalo. "O que ganharia o Senado em ter uma contratação secreta se tem mais de 5 mil funcionários transitando por aqueles corredores? Por que haveria de ter alguém secreto? Eu acho que essa história precisa ser melhor explicada."

O presidente foi além, insinuando que estão querendo fragilizar o Legislativo. "Eu não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil, mas quando a democracia teve o Congresso Nacional desmoralizado e fechado, foi muito pior para o Brasil. Portanto é importante que a gente comece a ver como fazer a preservação das instituições, separar o joio do trigo."

Lula voltou a bateria também em direção da imprensa: "Se tiver alguma coisa errada que haja uma investigação correta. O que não pode é todo dia você arrumar uma vírgula a mais, ou repetir a mesma matéria, vai desmoralizando todo mundo, cansando todo mundo, e inclusive a imprensa corre risco, porque a imprensa também tem que ter a certeza de que não pode ser desacreditada. Porque a hora que a pessoa começar a pensar, olha, eu não acredito no Senado, eu não acredito na Câmara, eu não acredito no Poder Executivo, eu não acredito o STF, também não acredito na imprensa. O que vai surgir depois? É importante a gente não ficar na política do denuncismo, porque o resultado final não é bom."

Indagado sobre o motivo para que a atual crise no Senado esteja acontecendo, Lula respondeu que não sabia. E que também não teme que o escândalo atrapalhe o governo. "Não. Não é possível. O governo tem a sua programação determinada, acho que todos os senadores, a começar pelo presidente Sarney, têm responsabilidade de dirigir bem os destinos do país, do Congresso Nacional, vamos esperar que essas coisas se resolvam rápido".

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do grupo de José Sarney no Maranhão e também ex-presidente do Senado, disse que não existe ato secreto e sim "reservado". E não quis comentar a situação de Sarney.

No Cazaquistão, Lula visitou seu "caro amigo" presidente Nursultan Nazarbayev, que está no poder desde 1991, quando o país se tornou independente. Nazarbayev propôs a Lula um intercâmbio entre parlamentares. Um dos últimos atos importantes dos políticos do Cazaquistão ocorreu em 2006, quando aprovaram mudança na Constituição permitindo a Nazarbayev ser reeleito pelo resto da vida, e fixando no máximo dois mandatos para os sucessores.