Título: Produção migra para o exterior
Autor: Marta Watanabe e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2005, Empresas &, p. B1

A perda de competitividade no Brasil - em função do câmbio - e a ausência de acordos bilaterais que garantam acesso a mercados importantes como o americano estão levando empresas brasileiras com fábricas no exterior a deslocar ou aumentar a produção para essas unidades, acelerando seu processo de internacionalização. Companhias como Marcopolo, Santista Têxtil e Weg estão apostando na vantagem exportadora de suas subsidiárias em relação às fábricas instaladas no Brasil. O vice-presidente da Marcopolo, José Antonio Fernandes Martins, diz que parte das expectativas de elevação de produção no exterior estão nas fábricas de Portugal e Colômbia. A primeira exporta 50% da produção para países da comunidade européia. "Em 2004, a fábrica de Portugal fabricou entre 12 e 13 carrocerias de ônibus por mês. A expectativa em 2005 é aumentar para 20 unidades." Ele argumenta que "nenhum país tem câmbio tão ruim como o do Brasil". O euro, calcula, valorizou-se 8,5% em relação ao dólar e o real, 19,9% no ano passado. Outro alvo, a unidade da Colômbia, exporta hoje menos de 10% de sua produção, principalmente para o Equador. "Nessa fábrica, a tentativa será de ampliar exportações para Venezuela e Peru. Como são todos países do Pacto Andino, há a vantagem de redução tarifária." Na Weg, fabricante de motores elétricos, o presidente da empresa, Décio da Silva, diz que a companhia está compensando as perdas de rentabilidade em função do câmbio negociando preço, apostando em produtos de maior valor agregado e aumentando a produção fora do país. A grande expectativa de produção fora do Brasil para o comércio exterior está na fábrica mexicana. "O câmbio no México está estável há cerca de dois anos e tem a grande vantagem de estar muito perto dos EUA." Ele não revela qual a expectativa de elevação de produção fora do Brasil, mas informa que a unidade mexicana tem muita capacidade ociosa. Alvo de investimentos em 2004, quando ganhou dois novos prédios para a fabricação de motores, a unidade mexicana apresenta hoje ocupação de apenas 30% a 40%, informa Silva. "Com a valorização do real, a unidade mexicana ganhou competitividade relativa na comparação com o Brasil. A Weg ainda concentra 90% de sua produção no Brasil. Além da fábrica mexicana, possui unidades em Portugal, Argentina e China. Na Santista Têxtil uma das estratégias para as fábricas no exterior está no Chile, onde a companhia passará a fabricar produtos de maior valor agregado. Isso, segundo os cálculos da empresa, poderá elevar a produção exportada dos atuais 66% para 80% em 2005. O presidente da companhia, Herbert Schmid, diz que o comportamento do câmbio chileno é muito "colado" ao do Brasil. A desvalorização do real, portanto, não torna a unidade chilena automaticamente mais competitiva, explica. Diante da valorização das moedas locais, porém, lembra Schmid, os acordos bilaterais acabam fazendo diferença. "Esses acordos do Chile com os Estados Unidos têm a vantagem de permitir redução tarifária", pondera. O presidente da Santista diz que em 2005 a fábrica chilena deverá continuar absorvendo investimentos da ordem de 10% a 12% da receita líquida total, seguindo os percentuais aplicados nos últimos anos. Ao contrário dos investimentos nas unidades brasileiras, que terão os percentuais de investimentos reduzidos de 8% e 9% para 7% da receita líquida, considerado pela empresa como o patamar mínimo para atualização e continuidade do crescimento das fábricas. Na Marcopolo, o foco nas exportações e unidades fabris em blocos econômicos importantes faz parte da estratégia da empresa em minimizar os riscos da dependência a determinados clientes. Fazem parte desses planos a instalação de novas unidades fabris. China e Índia são dois países em estudo. Martins lembra que as exportações representam 53% da receita da empresa. "Nossa matriz é brasileira e ainda fabricamos aqui muitas peças que são exportadas para montagem no exterior. Por isso, não há como neutralizar totalmente o efeito da desvalorização do real sobre as exportações." "Ninguém decide internacionalizar a produção somente por condições transitórias, como variação cambial e taxa de juros, mas esses dados macroeconômicos estão despertando as empresa para acelerar planos nesse sentido. Quem tem plataformas de produção lá fora está revendo seus custos e estudando deslocamento de produção", diz o professor David Travesso, da Fundação Dom Cabral. Ele pertence a um grupo que acompanha o processo de internacionalização de empresas como Weg, Gerdau, Sadia e Embraco. "Esse deslocamento não deve ser visto em tom alarmista, porque é natural e necessário à competitividade de empresas exportadoras."