Título: Falhas técnica e humana causaram o apagão
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2005, Brasil, p. A3

A ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, responsabilizou uma "combinação insólita" de falha técnica e erro humano pelo apagão que deixou sem eletricidade 90% do Estado do Rio de Janeiro e 80% do Espírito Santo, por quase uma hora e meia, no início da noite de sábado. Ela descartou a possibilidade de novas interrupções no fornecimento de energia e disse que qualquer tentativa de transformar o incidente em problema estrutural é "equivocada". O erro humano foi atribuído a funcionários da estatal Furnas Centrais Elétricas que teriam desligado indevidamente a única das quatro linhas de transmissão responsáveis pelo abastecimento dos dois Estados. Segundo o governo, a demanda por energia era de 3,5 mil megawatts (MW) naquele momento. A carga normal para o horário é de 5,2 mil MW. Dilma garantiu que, sem a ocorrência dessa falha humana, teria sido perfeitamente possível abastecer o Rio e o Espírito Santo com aquela linha. Das quatro linhas de transmissão de 500 kilovolts existentes, uma já estava desligada por causa da baixa carga do feriado - se estivesse funcionando, causaria problemas de tensão. As outras duas apresentaram um problema técnico com o sistema de proteção da rede, às 18h05. Durante 25 minutos, uma única linha de transmissão sustentou o abastecimento de energia, segundo o presidente de Furnas, José Pedro Rodrigues. Às 18h30, quando o defeito técnico foi reparado, um funcionário da subestação de Cachoeira Paulista abriu o disjuntor dessa linha, desligando todo o sistema até 19h50. Rodrigues afirmou que ainda não está claro se o erro foi cometido por esse funcionário em Cachoeira Paulista, onde as linhas de transmissão conectam-se ao sistema interligado nacional, ou se ocorreu em Campinas, sede do centro de controle de Furnas. "É preciso dizer claramente que o Rio de Janeiro tem um dos melhores suprimentos do país e isso não significa nenhum problema estrutural", afirmou o presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Mário Santos. Furnas e ONS foram convocados por Dilma para uma reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, ontem, em Brasília, que durou três horas. Nenhum dos três entrou em detalhes sobre eventuais punições a funcionários e evitaram comentar sobre enxugamento do quadro de técnicos ou terceirização de serviços. "Os funcionários são treinados e certificados", disse o diretor de operações de Furnas, Fábio Resende. Também não houve aprofundamento dos comentários de que equipamentos da subestação de Cachoeira Paulista têm cerca de 30 anos de uso e tecnologia defasada. "O sistema tem robustez suficiente para que não haja interrupções fortuitas e não existe por que levar pânico à população", assegurou Dilma. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) exigiu explicações de Furnas e definirá em até dois meses a eventual aplicação de multas. O superintendente de fiscalização dos serviços de eletricidade da agência, Paulo Henrique Silvestri Lopes, acompanhará pessoalmente as inspeções em Furnas. Um primeiro relatório será preparado entre 10 e 15 dias.