Título: Políticas de salários ganham atenção dos investidores
Autor: Gribben, Kristin
Fonte: Valor Econômico, 29/06/2009, Eu & Investimento, p. D3

As práticas de remuneração das companhias americanas e os membros de conselhos de administração que atuam nos comitês de remuneração estão neste ano sob um escrutínio especial das das firmas de recomendação de voto.

Essas firmas emitem recomendações aos investidores sobre como usar as procurações de voto. A RiskMetrics Group, a maior e mais influente dessas empresas, vem ampliando a lista do que considera práticas de remuneração deficientes, o que está resultando em uma análise mais rigorosa dos planos de remuneração das companhias e da reeleição de conselheiros que aprovaram esses planos.

Um dos fatores que a firma usa para decidir se recomenda aos acionistas votar contra os salários de conselheiros é o teste das práticas de remuneração, afirma Jim Kroll, consultor sênior da Towers Perrin, uma consultoria especializada em remuneração de executivos.

Neste ano, a RiskMetrics passou a incluir na lista de práticas deficientes indenizações por desligamento excessivas e acertos de mudança de controle, concessão de benefícios a executivos sem desconto de impostos e uso de aviões da empresa com finalidades particulares.

O resultado tem sido mais recomendações para se votar contra a reeleição de diretores. Na atual temporada, a RiskMetrics vem recomendando contra a reeleição de 20% dos conselheiros no universo das companhias que cobre - o maior número desde 2003, depois do escândalo da Enron.

A companhia já recomendou até agora no ano que os investidores votassem contra 28% dos planos de remuneração com ações. Isso é menos que a média dos últimos quatro anos, de 33%, em parte porque muitas empresas fizeram modificações nas práticas de remuneração para torná-las mais favoráveis aos acionistas, depois da investigações reguladoras e do Congresso dos Estados Unidos.

Os planos de remuneração também estão se tornando mais amigáveis aos acionistas, na medida em que as companhias mudam em resposta a questões levantadas pelas empresas de recomendação de voto antes dos planos serem colocados em votação. Após discussões com a RiskMetrics, a Borders fez mudanças no plano de incentivos de longo prazo. Entre as mudanças, ela reduziu o número de ações disponíveis para distribuição sob o plano em 1,65 milhão.

A RiskMetrics também abordou a Jack in the Box depois de emitir uma declaração para procuração em fevereiro, sobre a intenção da empresa de fazer pagamentos sem desconto de impostos para executivos e realocar pagamentos para o vice-presidente sênior e conselheiro geral, Phillip Rudolph.

Em resposta, a Jack in the Box decidiu eliminar as gratificações sem desconto de impostos para os executivos, com exceção dos benefícios de realocação e as viagens de cônjuges em certos eventos patrocinados pela companhia.

Em abril, depois de conversar com a RiskMetrics, a Furniture Brands International disse que iria colocar sob votação, na assembleia anual de 2010, um plano de direitos dos acionistas aprovado pelo conselho de administração no ano passado. A RiskMetrics tem uma política de recomendar uma votação contra os conselheiros que aprovam ou renovam um plano de direitos dos acionistas sem buscar a aprovação dos acionistas.

Muitas companhias estão querendo alterar as políticas de remuneração em resposta à RiskMetrics porque inúmeros investidores institucionais seguem as recomendações da firma. Essa confiança deverá aumentar na medida em que mais empresas adotarem políticas que dão mais voz aos acionistas sobre a remuneração dos executivos.

A medida é exigida pelo governo dos EUA para companhias que tomaram recursos emprestados sob o Plano de Ajuda aos Ativos Problemáticos (Tarp, na sigla em inglês). Cerca de uma dúzia de outras empresas adotaram voluntariamente nos últimos dois anos a política do "say on pay", que permite aos acionistas votar contra ou a favor de planos de remuneração das empresas para os cinco executivos mais importantes.

Um projeto de lei apresentado ao senado americano em maio por Charles Schumer, senador Democrata por Nova York, exige o "say on pay" para todas as empresas de capital aberto. Um projeto de lei parecido foi aprovado na Câmara dos Representantes em 2007.

"Sob o "say on pay" haverá aumento do poder dos serviços de recomendação de voto e isso decorre do fato dos investidores não terem feito o dever de casa direito", diz Edward Durkin, diretor da United Brotherhood of Carpenters and Joiners.

O sindicato dos carpinteiros e marceneiros vem se opondo ao "say on pay" porque ele não agrega muito valor à discussão sobre as questões de remuneração, afirma Durkin. Além disso, seria impossível para a maior parte dos investidores institucionais votarem centenas de milhares de planos de remuneração (3,5 mil no caso do sindicato dos carpinteiros), a menos que eles se baseassem no aconselhamento das empresas de recomendação de voto. "Se você tem um voto "say on pay" anual e exerce sua responsabilidade de votar, como nós exercemos... isso seria um problemão", afirma Durkin.

Em vez disso, neste ano o sindicato dos carpinteiros submeteu uma proposta alternativa ao "say on pay" em 20 grandes companhias. Ela permitirá aos investidores fazer uma votação não obrigatória a cada três anos sobre a remuneração geral, junto com o plano anual de incentivos, os incentivos de longo prazo e os benefícios pós-emprego, como pensão.

Durkin atribui o aumento da influência da RiskMetrics e outras empresas de recomendação de voto ao fato de os investidores institucionais não estarem fazendo a sua parte. Se investidores e companhias não querem a mediação de terceiros, precisam se comunicar diretamente, disse Durkin. A capacidade de fazer isso depende de quão bom é o relacionamento entre empresas e investidores.

As companhias que receberam recursos do Tarp têm mostrado que estender a mão aos acionistas pode ser um trabalho hercúleo, mas não impossível.

Depois que as companhias foram notificadas pela Casa Branca de que deveriam implementar o "say on pay" nas assembleias anuais, nenhuma das que receberam recursos do Tarp ganhou até agora uma maioria dos votos contra os pacotes de remuneração dos executivos. "Suponho que eles pegaram o telefone e ligaram para os acionistas logo que descobriram que teriam de implementar o say on pay", diz Kroll.

Este é o último de uma série de quatro artigos sobre o tema.