Título: Arcelor define novo presidente para Acesita
Autor: Ivo Ribeiro e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2005, Empresas &, p. B3

A fabricante brasileira de aço inox e aços especiais Acesita terá novo presidente a partir do fim de abril. Um executivo francês, cujo nome ainda não foi revelado, vem diretamente da área de inox da matriz do grupo, sediado em Luxemburgo. Vai assumir o lugar de Luiz Aníbal de Lima Fernandes, presidente da companhia, que está se aposentando. O executivo brasileiro, que voltará ao ramo de consultoria, foi promovido ao cargo em 2002, no lugar de Jean-Yves Gillet. Gillet veio para o Brasil em 1998 tão logo a antiga Usinor fechou a compra de 38% do capital votante da Acesita e parte expressiva do capital da Siderúrgica de Tubarão (CST). Voltou à França como vice-presidente, na divisão de inox e aços especiais, da Arcelor, fusão entre Usinor, Arbed e Acerália. Pouco se sabe sobre a vinda do novo executivo, que deverá ficar por pelo menos três anos à frente da empresa, maior fabricante de inox da América Latina e segunda maior operação da Arcelor nesse negócio. Para fontes do setor de aço, pode ser um sinal de que as negociações de compra das ações dos fundos de pensão podem estar bastante aceleradas. Os fundos têm até dezembro para exercer a opção de venda. O grupo faturou 4,57 bilhões de euros em 2004 em inox, aços especiais e ligas com vendas de 2,1 milhões de toneladas. Produziu 2,4 milhões de toneladas. A Acesita contribuiu com mais de US$ 1 bilhão de receita líquida ao vender 768 mil toneladas, volume 7,3% maior que o do ano anterior. O mercado interno, puxado pelo aumento de demanda de 14%, respondeu por 530 mil toneladas. "Tivemos de reduzir as exportações, em 5,8%, para atender clientes domésticos", disse o executivo. A saída de Fernandes, após dez anos de empresa - chegou em 1996 para a área de desenvolvimento e a seguir foi para diretoria de finanças - completa mais um ciclo da empresa, que ontem divulgou o balanço de 2004 com lucro recorde de R$ 680 milhões. O resultado da Acesita, que foi 189% superior ao de 2003, está em linha com o desempenho positivo da indústria do aço no mundo, que nunca viu ganhos tão pujantes. No ano passado, a Acesita obteve aumento de 38% na receita líquida, para R$ 3,2 bilhões. A alta do preço do aço - de 43% em média, no caso do inox - contribuiu para se obter esse desempenho. "Tivemos o melhor desempenho da indústria de aço inox no mundo", disse Fernandes ao Valor, pouco antes de viajar para a França e Luxemburgo, onde enfrentaria uma maratona de reuniões com a direção do grupo. Ele mencionou que a margem lajida (lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações) alcançou 32,9%. A Acerinox, fabricante espanhola de inox com operações também nos EUA e África do Sul, obteve 15,8%. A Acesita dobrou o resultado operacional no ano passado, de R$ 500,3 milhões para R$ 1,04 bilhão. A empresa mudou de patamar nos últimos anos com o ajuste de seu foco na produção de aço inox e de aços especiais (silício GO e GNO e planos). "Em 2002, decidimos sair do negócio de barras e alocamos esforços para produtos de maior valor agregado. Com isso, passamos de uma empresa com receita de próxima de US$ 400 milhões para além de US$ 1 bilhão." Após seguidos prejuízos ou lucros mirrados, pela primeira vez desde 1997 a Acesita vai pagar dividendos aos seus acionistas - além da Arcelor, fundos de pensão liderados pela Previ e o BNDES são os mais importantes sócios. A direção da empresa aprovou o pagamento de 50% do lucro líquido ajustado de 2004, que ficou em torno de R$ 400 milhões. Naquele ano, pagou R$ 1,8 milhão, que representou 65% do lucro. A empresa se livrou também do pesado fardo da dívida que acumulou nos períodos de elevados investimentos e, principalmente, de uma estratégia de aquisições que na época não agradou muito ao mercado, como Aços Villares, Sifco e CST. Apenas nesta última, o valor superou a marca de US$ 500 milhões. A empresa encerrou 2004 com dívida líquida de R$ 988 milhões - uma relação sobre lajida de 0,9. Superou a meta da empresa, de 1,5 para o ano. A Acesita abateu R$ 533 milhões da dívida no ano. Parte dos recursos vieram da venda da sua parte na CST, 42% do capital total, para a Arcelor por US$ 227 milhões. O negócio foi concluído em dezembro com quitação de mais R$ 161 milhões. "Concluímos o dever de casa; agora somos uma empresa lucrativa", disse ontem o diretor de finanças, Gilberto Audelino Corrêa. "Daqui para frente, estamos prontos para novos investimentos." Há um estudo um plano para ampliar a laminação a frio de aço inox na usina de Timóteo em mais 200 mil toneladas. Hoje são 320 mil. "Antes de discutir novos planos, tínhamos o dever de pagar dividendos." A empresa deve definir em breve investimento em torno de US$ 15 milhões em um centro de serviços de aço inox no sul de São Paulo para atender os grandes clientes. E planeja também uma operação própria nessa área na Argentina e outra no Chile, forte consumidor.