Título: Ação da PF desmonta fraude financeira
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2005, Brasil, p. A3

A Polícia Federal realizou, ontem, uma megaoperação contra uma organização criminosa que oferecia créditos tributários "frios" a empresas em dificuldades financeiras. A Operação Tango - como foi chamada devido ao envolvimento do argentino César de La Cruz Mendoza Arieta - apurou que foram movimentados R$ 1,5 bilhão ilegalmente. Até o início da noite, 13 pessoas haviam sido presas em diferentes Estados, incluindo Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraíba. Segundo a PF, a organização revendia a empresas direitos sobre créditos tributários, que eram utilizados na compensação de obrigações fiscais. Os fraudadores também financiavam a compra de créditos vendidos e emprestavam dinheiro às empresas, utilizando essas operações para "lavarem" contabilmente o dinheiro obtido com o crime, informou a PF. Segundo a polícia, a negociação era feita por meio da empresa Vale Couros Trading, com sede em Palmas (TO), mas com base operacional em Porto Alegre (RS). A Vale Couros Trading movimentou R$ 1,49 bilhão durante seis meses no ano passado, basicamente com a compra de carteiras de investimentos sem pagar impostos. O grupo era encabeçado por César de La Cruz Mendoza Arrieta e por Roberto Coimbra Fabbrin. Arieta é considerado pela PF como um dos maiores fraudadores da Previdência Social. A corporação afirmou, em Brasília, através de sua assessoria de comunicação, que empresários e servidores públicos também faziam parte do grupo criminoso. A PF negou-se a citar nomes, alegando que as investigações ainda estão em curso. A organização também promovia operações ilícitas, com o aval de instituições bancárias, na compra de créditos comuns, como CDBs. A PF informou que a organização pagava ao aplicador um valor superior ao que ele recebia após o recolhimento do Imposto de Renda. Dessa forma, os fraudadores assumiam o tributo, mas não efetuavam o seu recolhimento. A Operação Tango envolveu 300 policiais federais e 46 mandados. Foram expedidos 19 mandados de prisão e 27 de busca e apreensão de documentos junto à Justiça Federal de Crimes Financeiros e Lavagem de Dinheiro em seis Estados: Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Tocantins e Paraíba. A investigação começou em 2002. A PF está investigando a hipótese de o Banco Santos ter se envolvido no esquema em uma operação específica. De acordo com a corporação, o Banco Santos comprou, em junho de 2004, a Vale Couros Trading, empresa utilizada pela organização. O objetivo do negócio, segundo a PF, seria usar créditos tributários estimados em R$ 436 milhões para afastar a ameaça de intervenção no Santos pelo Banco Central. O Escritório de Advocacia Sérgio Bermudes, que representa Edemar Cid Ferreira, controlador do Banco Santos - sob intervenção do BC - confirma que o banco permutou créditos por ações da Vale Couros Trading, da titularidade de Roberto Fabbrin, em 30 de junho de 2004, com cláusula que dava ao banco a opção de devolver as ações. Os créditos de IPI, afirma a nota, tiveram legitimidade "confirmada por uma auditoria independente". Depois, acrescenta a nota, o Banco Santos, já na fase de intervenção, devolveu as ações da Vale Couros Trading em dezembro do ano passado. Ainda de acordo com a nota, a operação não causou nenhum prejuízo ao banco. (Com FolhaPress)