Título: PF indicia presidente da BrT por formação de quadrilha
Autor: Juliano Basile e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 12/04/2005, Empresas &, p. B1

A Polícia Federal indiciou a presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco, por formação de quadrilha, violação de sigilo e corrupção ativa e divulgação de segredo (espionagem ilegal). Cicco depôs por quatro horas, ontem, na sede da PF, em Brasília, no inquérito do caso Kroll. Os delegados queriam obter mais informações sobre a contratação da Kroll pela BrT. A PF suspeita que a Kroll tenha investigado integrantes do governo federal a pedido da BrT. O indiciamento significa que a PF encontrou fortes indícios da participação de Cicco nos supostos crimes. O inquérito corre em sigilo e, por isso, a PF recusou-se a fornecer mais informações. A presidente da BrT saiu da sede da PF sem falar com os jornalistas. O advogado de Carla Cicco, Antonio Carlos de Almeida Castro, informou apenas que o dono do Banco Opportunity, Daniel Dantas, deporá na próxima quarta-feira, na PF do Rio, sobre a mesma investigação. O Opportunity também é suspeito de ter contratado a Kroll para investigar desafetos na área empresarial e no governo. A PF informou que as informações prestadas pela presidente da Brasil Telecom durante as quatro horas de depoimento não ajudaram nem comprometeram as investigações. Cicco teria sido bastante prolixa nas explicações. De acordo com avaliação interna da PF, o depoimento foi bom apenas para o cumprimento de uma formalidade: os delegados precisavam indiciá-la e ouvi-la antes de concluir o inquérito. A executiva teria ficado muito constrangida com algumas questões. A PF avaliou que Cicco ficou nervosa em alguns momentos de seu depoimento, mas não se recusou a responder às questões. Antes de depor, a presidente da BrT chegou aparentemente tranqüila e disse aos jornalistas presentes na portaria da PF que daria entrevistas tão logo encerra-se o seu depoimento. Após depor, Cicco preferiu sair rapidamente da PF. Cercada por advogados e seguranças, a executiva desviou dos jornalistas e fotógrafos, ignorou as dezenas de perguntas feitas no trajeto de 150 metros entre a portaria da PF e o carro que a esperava. Saiu sem dar qualquer declaração. As conclusões da PF no inquérito que apura a suposta espionagem contra integrantes do governo e de empresas privadas serão enviadas ao Ministério Público e à Justiça Federal. O advogado Nélio Machado, que atua na defesa de Dantas e Cicco, disse ontem no Rio de Janeiro que a investigação da PF é enviesada desde a primeira hora. Ele informou ainda que fez denúncias à Procuradoria Geral da República, em Brasília, contra um executivo da Telecom Itália e que aguarda a investigação dos fatos até hoje. Machado impetrou um habeas corpus na 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, cujo o mérito ainda não foi julgado, para evitar o indiciamento. As principais suspeitas da PF referem-se à atuação da Kroll em 2003 e durante o primeiro semestre de 2004. Neste período, a empresa de consultoria teria monitorado os contatos da Telecom Itália no Brasil, inclusive com integrantes do governo Lula. A Telecom Itália disputa com Daniel Dantas o controle acionário da BrT. As empresas já levaram a disputa à Justiça de Nova York, ao Cade, à Anatel e à Justiça Federal do Brasil. De acordo com a apuração da PF, a Kroll capturou e-mails trocados entre ministro-chefe da Secretaria de Comunicação do governo, Luiz Gushiken, e o ex-sócio de Dantas no Opportunity, o empresário Luiz Roberto Demarco. Dantas e Demarco romperam e passaram a travar disputas judiciais. A Kroll também teria investigado o encontro de representantes da Telecom Itália com o presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb. O presidente da Anatel, Elifas Gurgel, afirmou que o conselho diretor da agência analisará hoje a saída do banco carioca Opportunity do fundo internacional CVC, controlador das operadoras Brasil Telecom, Telemig Celular e Tele Norte Celular. Ele foi o responsável pelo adiamento de uma decisão, na semana passada, ao pedir vistas do processo. (Colaborou Catherine Vieira, do Rio)