Título: Lula aponta contradição na economia
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 29/04/2005, Política, p. A10

O país vive um "momento econômico contraditório", segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista para o programa de televisão da Central Única dos Trabalhadores (CUT), com o presidente da central, Luiz Marinho, Lula apontou a divergência entre manter uma política econômica "dura", com aumento da taxa de juros para controlar a inflação e conter a demanda e a de incentivar a política de crédito consignado, que injeta recursos na economia. Mesmo com oposições na economia, o presidente acredita no bom entendimento entre setores empresariais para controlar a inflação e garantir o crescimento econômico sustentável. "Se alguém quiser chamar de pacto, que chame. Se não quiser chamar, que não chame. Não importa. Mas o dado concreto é que se nós quisermos controlar a inflação (...) é preciso mais do que juros. " Lula não deixou de ressaltar o crescimento econômico e disse que os "passos sólidos" dados pelo governo garantem continuidade. "Não há uma contradição entre o crescimento das exportações e o crescimento do mercado interno. O mercado interno continua. Queremos construir uma política que torne o modelo sustentável por um ciclo de 15 ou 20 anos." Sobre a politica de crédito, Lula alertou os aposentados, alvo da propaganda de bancos para contraírem investimentos, sobre as altas taxas de juros cobradas e gabaritou a central para tentar negociar a cobrança. A entrevista da CUT reuniu Luiz Marinho e Lula na Granja do Torto, em uma conversa sobre taxas de juros, salário mínimo, previdência social, ampliação do Conselho Monetário Nacional e reforma sindical. O programa Repercute será exibido na Rede Bandeirantes no sábado, véspera do dia do trabalho, e no domingo, na rede TV. Uma das principais bandeiras que serão levantadas pelo sindicalismo em primeiro de maio será contra o desemprego. Lula disse que o país está retomando a geração de empregos e comparou a atual situação com a década de 70. "Passamos praticamente 20 anos sem ver uma placa de 'precisa-se' na porta de uma empresa. Agora começou a ter outra vez essa placa. Começamos a retomar aquilo que precisa ser retomado no Brasil, que é a possibilidade." Questionado por Marinho sobre a atenção destinada à aprovação da reforma sindical, Lula reiterou que a reforma é necessária e que "o governo, a sua bancada, os líderes de todos os partidos que compõem a base do governo têm que trabalhar muito para dar ao sindicalismo brasileiro algo sólido".