Título: BC quer modernizar câmbio
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Fonte: Correio Braziliense, 06/03/2010, Economia, p. 18

Meirelles, presidente do Banco Central, afirma que medidas em análise são técnicas e visam conferir maior eficiência ao regime cambial

O Banco Central estuda medidas para modernizar as operações em moeda estrangeira no Brasil. A informação foi transmitida ontem pelo presidente da instituição, Henrique Meirelles(1), durante encontro em Nova York com empresários na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. De acordo com Meirelles, as medidas em análise são, em sua maioria, técnicas e buscam tornar o mercado de câmbio brasileiro mais ¿eficiente¿, podendo, também, resultar em aumento dos fluxos de divisas.

Meirelles informou que o Banco Central retomou recentemente a revisão das leis cambiais, que foram instituídas na década de 1930, quando as moedas fortes eram escassas. ¿Estamos estudando medidas para expandir o mercado de câmbio, torná-lo mais aberto e ampliá-lo para além dos exportadores¿, adiantou. ¿Esperamos que a modernização do mercado cambial exerça impacto sobre várias práticas de negociações. Isso pode, obviamente, ter impacto nos fluxos como um todo¿, analisou.

China Também ontem, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, abordou o tema do câmbio, dizendo ser essa uma questão mundial. Ele avaliou que as medidas tomadas pelo governo para atenuar a valorização excessiva do real, em meados de 2009, foram bem sucedidas. Mas, por outro lado, avaliou que a situação ainda não é a ideal. Mantega disse que a competitividade brasileira enfrenta problemas que devem ser combatidos, não somente localmente, mas também de forma global, já que regimes cambiais como o da China reforçam os desequilíbrios em vários países.

¿Temos hoje uma situação relativamente estabilizada (da taxa de câmbio brasileira), mas não é a ideal, não é o melhor dos mundos... A questão da competitividade não está resolvida, mas não queremos fazer a coisa de qualquer jeito. Não vale tomar qualquer medida que possa perturbar os mercados¿, disse ele durante seminário em São Paulo. ¿Estamos olhando a competitividade, temos que reduzir custos financeiros, burocráticos¿, acrescentou.

O ministro da Fazenda reafirmou que o câmbio flutuante é o melhor regime e criticou países, como a China, que mantêm a moeda local atrelada ao dólar. ¿Precisamos de um novo Bretton Woods (sistema de gerenciamento econômico internacional que instituiu, em julho de 1944, as regras para as relações comerciais entre os países mais industrializados) para ter uma homogeneidade¿, afirmou. Mantega lembrou que o câmbio flutuante predomina no mundo, e, de acordo com ele, há atualmente regimes de flutuação ¿mais sujos do que pau de galinheiro¿.

IOF Ao fazer uma retrospectiva das ações do governo para conter a ¿valorização excessiva do real¿, o ministro avaliou como bem-sucedida a imposição do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre fluxo estrangeiro para bolsa e renda fixa. ¿A partir do segundo semestre de 2009, com a situação da crise mundial sob controle, os fluxos de capital começaram a aumentar e o Brasil era o endereço preferido... Resolvemos adotar o IOF e, dali em diante, a volatilidade diminuiu.¿ Naquele momento, ¿o dólar estava em R$ 1,70 e tendia a ficar abaixo disso. Com o IOF, isso foi estancado e, portanto, diria que a medida foi bem sucedida¿.

Como não poderia deixar de ser, ele defendeu a estratégia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de incentivar o crescimento com a finalidade de gerar poupança interna. ¿Há uma corrente que fala o contrário, que é preciso ter poupança para ter crescimento sustentável... essa visão não é correta. Nós estimulamos o crescimento em primeiro lugar, com estímulos aos investimentos e empregos, aumento do crédito¿, concluiu.

1 - Eleição O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reiterou ontem, em Nova York, que tomará uma decisão sobre seu eventual futuro político até o fim deste mês. Caso decida concorrer a algum cargo nas eleições de 2010, Meirelles terá que deixar o BC até 3 de abril. Ele está filiado ao PMDB.

US$ 20 bi podem pressionar o real Os exportadores brasileiros têm cerca de US$ 20 bilhões em receitas não internalizadas no país, afirmou ontem o diretor de relações internacionais e comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti. ¿O que seria da taxa de câmbio se esse dinheiro já tivesse entrado (no país)?¿, questionou o economista. O fim da chamada cobertura cambial foi definido há cerca de dois anos. ¿Tem mais modernização (da legislação cambial) a ser feita. O BC está fazendo isso de forma muito lenta, eu diria até preguiçosa.¿

Esperamos que a modernização do mercado cambial exerça impacto sobre várias práticas de negociações. Isso pode, obviamente, ter impacto nos fluxos como um todo¿

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central

Temos hoje uma situação relativamente estabilizada (da taxa de câmbio brasileira), mas não é a ideal. A questão da competitividade não está resolvida, mas não queremos fazer a coisa de qualquer jeito. Não vale tomar qualquer medida que possa perturbar os mercados¿