Título: Vasp irá propor ao governo pagar em seis vezes a dívida com Infraero
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2004, Empresas, p. B-2

Em um dia decisivo para o futuro das suas operações, a Vasp entregará hoje ao governo uma proposta melhorada para a quitação de dívidas recentes com a Infraero, estatal responsável pela administração dos aeroportos do país. A companhia aérea deverá fazer duas promessas: não atrasar mais o pagamento das taxas aeroportuárias e quitar, em seis parcelas mensais, o débito de R$ 11 milhões acumulado nos últimos três meses, segundo um interlocutor da família Canhedo familiarizado com as discussões. Se concretizada, a proposta representará um pequeno avanço em relação à que foi apresentada na quinta-feira, quando o presidente da empresa, Wagner Canhedo, esteve reunido com o ministro da Defesa, José Viegas. O empresário pediu 12 meses para honrar suas dívidas com a Infraero e ouviu de Viegas uma resposta negativa, em tom pouco amigável, segundo um dos participantes da reunião. A nova proposta, porém, tem todo o potencial para irritar o ministro e o presidente da Infraero, Carlos Wilson: ao mesmo tempo em que promete pagar a dívida, Canhedo deverá fazer um apelo por seis meses de carência, para permitir a recomposição do caixa de sua empresa. Nesse período, faria o pagamento a cada 15 dias das taxas aeroportuárias, mas ganharia fôlego para começar a quitação da dívida recente. O que Canhedo quer evitar a todo custo é a cobrança diária e antecipada das taxas. A Infraero ameaça colocar em prática, nas próximas horas, essa forma de cobrança. Com isso, a Vasp seria obrigada a desembolsar R$ 600 mil por dia. Para analistas, a companhia enfrentará dificuldades financeiras com a exigência. Além dos R$ 11 milhões, a Vasp também deixou de cumprir o acordo que prevê o pagamento parcelado de um débito de R$ 774 milhões acumulado desde os anos 90. Canhedo deverá entregar sua proposta hoje à tarde a Viegas, que também é presidente do conselho de administração da Infraero. Se não houver entendimentos, a Infraero deve começar a exigir o depósito à vista e diário das taxas, que são cobradas dos passageiros. Hoje, uma comissão de funcionários da Vasp fará uma peregrinação por Brasília para pedir ao governo uma operação de socorro à companhia aérea, que foi privatizada em 1990 e enfrenta a pior crise da sua história. A caravana deverá reunir dezenas de empregados e tentará entregar um manifestado, intitulado "A Vasp não pode parar", a autoridades dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O manifesto pede especificamente a "dilatação do prazo para pagamento" das dívidas da empresa com a Infraero e cobra a interrupção do "tratamento desigual" dado à Vasp. A comissão não tem o aval dos sindicatos que representam pilotos, comissários de bordo e pessoal em terra.