Título: Lula faz defesa da reforma sindical
Autor: Marli Olmos e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2005, Política, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reagiu ontem a manifestações contrárias à reforma sindical em São Bernardo do Campo (SP). "Não é possível, que alguém defenda a estrutura sindical como ela existe", disse Lula, durante discurso na Volkswagen, onde foi erguida uma faixa com a inscrição: "Não à reforma sindical e trabalhista, que retira direitos". "A estrutura sindical existente é a cópia fiel da Carta del Lavoro, de Mussolini", disse Lula a uma platéia que reuniu empresários e trabalhadores, na fábrica da Volkswagen, que comemorou ontem a produção de 15 milhões de veículos no país (ver página B9). Lula apontou a história do movimento sindical dos metalúrgicos do ABC como exemplo de mobilização contra o modelo sindical vigente. "Foi brigando para mudar essa estrutura que esse se transformou num grande sindicato", destacou. Considerada prioritária pelo governo, a reforma sindical corre o sério risco de não avançar no Congresso. Apesar de ser fruto de dois anos de negociações entre governo, empresários e trabalhadores, o texto final da proposta enfrenta resistências de diversos setores, o que faz com parlamentares, muitos da base governista, já trabalhem pelo fracasso da reforma. "Não queremos esta reforma sindical apresentada", disse Paulo Paim (PT-RS), defendendo ontem, na comemoração do Senado pelo Dia do Trabalho, a retirada da proposta pelo governo. As principais críticas dos sindicalistas sobre o projeto recaem no fim do imposto sindical, na liberdade de organização e na nova regulamentação ao direito de greve. Já os empresários são contra a representação dos trabalhadores dentro das fábricas. Todos estes pontos são considerados pelo governo como pilares da reforma. Apesar da nova defesa da reforma feita pelo presidente Lula, diversos interlocutores do governo criticam seu andamento. "Acho que a reforma sindical vai ter dificuldades no Congresso", afirmou o presidente nacional do PT, José Genoíno, no site oficial do partido. A bancada da Câmara ainda não fechou questão sobre a proposta do governo. Já o PTB, da base aliada, fechou questão contra a proposta, inclusive com propaganda política contra a reforma. "Apesar de a estrutura sindical precisar ser renovada, não é bom para o partido e para o governo tocar o assunto à frente porque há uma certa instabilidade política no Congresso e é um assunto que não agrega, divide", afirmou o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). "O governo está totalmente perdido, sem estratégia para aprovar a reforma", afirma o ex-presidente da Força Sindical, Medeiros (PL-SP). A reforma foi enviada ao Congresso no início de março, mas está parada. O relator da reforma na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Maurício Rands (PT-PE), ainda não apresentou sua conclusão, necessária para a proposta ser admitida no Congresso. Existe um outro problema político relacionado à reforma sindical na Câmara - a relatoria e a presidência da comissão especial que precisa ser criada após sua aprovação na CCJ. O presidente da casa, Severino Cavalcanti (PP-PE) já teria prometido, de acordo com os próprios deputados, a relatoria da comissão a três colegas: Medeiros, Vicentinho (PT-SP) e Jovair Arantes (PTB-GO). A decisão final de Severino, contudo, só deve ser tomada no dia da criação da comissão. Além dos problemas políticos, os principais envolvidos na reforma - os sindicalistas - estão tendo de enfrentar problemas de mérito sobre a proposta em suas próprias bases. "Quero me encontrar com Luiz Marinho (presidente da CUT) para resolver as pendências que existem, precisamos ter uma posição coesa", disse Paulo Pereira, o Paulinho, presidente da Força Sindical. "A tramitação no Congresso é difícil, mas não podemos ficar desesperados por qualquer declaração", disse Marinho. A CUT vai realizar na próxima semana sua plenária nacional, que deve referendar o apoio da central a reforma, mesmo com um forte grupo da entidade, de cerca de 40%, ser contrário a proposta: "Não tenho dúvidas que sairemos com apoio".