Título: Nove municípios concentram 25% da renda
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2005, Especial, p. A12

Os números do Produto Interno Bruto (PIB) municipal brasileiro em valor, calculado pela primeira vez pelo IBGE, representam mais um indicador da má distribuição da riqueza no Brasil. Em 2002, apenas nove municípios (0,2% do total), seis deles capitais, concentravam 25% de toda a produção de bens e serviços do país, enquanto outros 25% da riqueza estavam repartidos por 5.153 municípios, 92,7% do total das 5.560 unidades que fizeram parte do levantamento. O trabalho do IBGE, feito em colaboração com os órgãos estaduais de estatística, levantou, ano a ano, os números do PIB municipal de 1999 a 2002. Os nove municípios mais ricos representavam 15,2% da população do país, enquanto os 5.153 que detinham a mesma renda correspondiam a 43,3% da população brasileira. De acordo com os dados, em 1999 a concentração era ainda maior, com apenas sete municípios acumulando 25% do PIB. São Paulo, que permaneceu na liderança, perdeu participação relativa, passando de 11,6% do PIB brasileiro em 1999 para 10,4% em 2002. O Rio de Janeiro, segundo colocado, passou de 5,6% para 4,7% no mesmo período. Dos sete grandes em 1999, todos eram capitais, incluindo Brasília. Os outros quatro eram Manaus, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. Em 2002, Porto Alegre não figurou no grupo das nove maiores economias. Em compensação, entraram no seleto clube três municípios que não são capitais: Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Guarulhos e São José dos Campos, ambas em São Paulo. O PIB da capital paulista era de R$ 140,066 bilhões em 2002 e o do Rio vinha em seguida com R$ 62,862 bilhões. No outro extremo, São Félix do Tocantins (TO), com R$ 1,9 milhão, e Santo Antônio dos Milagres (PI), com R$ 2 milhões, tinham os menores PIBs do Brasil. "A gente sabia que a renda era concentrada, mas não o quanto era concentrada", disse Sheila Zani, coordenadora do PIB Municipal do IBGE. O Índice de Gini, usado aqui para medir o grau de concentração da economia brasileira (o indicador vai de zero a um e quanto mais perto de um, maior a concentração, ou desigualdade), do PIB brasileiro em 2002 era de 0,84. A menor concentração era no setor agropecuário, com índice de 0,63, e a maior, na indústria, com índice de 0,91, enquanto nos serviços o índice era de 0,85. De acordo com os dados do IBGE, 165 municípios concentravam 25% da produção do campo brasileiro em 2002, enquanto os mesmos 25% da produção industrial estavam nos territórios de apenas nove unidades, coincidentemente, o mesmo número de municípios que detinham a mesma parcela da produção total do país. Os dois primeiros produtores industriais são também os mesmos São Paulo e Rio de Janeiro, mas a força da indústria do petróleo fazia com que apenas outras duas capitais (Manaus e Belo Horizonte) aparecessem entre os dez maiores na indústria. Das outras seis posições, quatro estavam com municípios relacionados com a indústria do petróleo, Sendo Campos, Macaé e Duque de Caxias no Estado do Rio de Janeiro e Camaçari (petroquímica). As outras duas unidades eram Guarulhos e São Bernardo do Campo, em São Paulo. Os números do PIB municipal de 2002 mostram que o maior PIB agropecuário do país é o de Itápolis, em São Paulo R$ 694,65 milhões), sendo essa riqueza ligada à produção de laranjas. As outras seis cidades mais bem colocadas no ranking agropecuário também são de São Paulo e todas devem suas riquezas ao cultivo da laranja (Mogi Guaçu, Casa Branca, Itapetininga, Bebedouro, Barretos e Olímpia, nessa ordem), segundo o IBGE. Em oitavo lugar aparece um município de outro Estado, Petrolina (PE), cuja riqueza rural está também ligada à produção de frutas, principalmente manga, uva e goiaba. As duas maiores capitais do país (São Paulo e Rio) concentravam sozinhas em 2002 quase 25% da produção de serviços do país. As 26 capitais de Estados mais Brasília respondiam por 39,8% do valor dos serviços de todo o país. Entre as capitais de Estados, Vitória (ES) tem o maior PIB per capita do país, com R$ 22.269, seguida de Brasília, com R$ 16.361. São Paulo, que possui mais de 10% do PIB total do país, tinha em 2002 renda per capita de apenas R$ 13.139, ficando em quarto lugar, acima do Rio de Janeiro (R$ 10.537). Teresina (PI) tinha a pior renda per capita entre as capitais, com R$ 3.903. O menor PIB per capita era de Bacuri, no Maranhão, com apenas R$ 581. Todos os cinco menores PIBs per capita do país eram de municípios maranhenses.