Título: Ana Diniz pode substituir Abilio no Pão de Açúcar
Autor: Claudia Facchini e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 09/05/2005, Empresas &, p. B4

O acordo entre o Casino e o Pão de Açúcar, fechado na semana passada, só foi possível porque o empresário Abilio Diniz assegurou a manutenção da gestão do grupo. Em entrevista ao Valor, Diniz afirmou que essa foi uma precondição estabelecida logo na partida das conversas. Nessa linha, sua filha Ana Maria Diniz poderá assumir o seu lugar na presidência do conselho do grupo caso ele se afaste nos próximos sete anos. Leia a seguir trechos da entrevista. Valor: O acordo com o Casino encerra de vez a possibilidade de uma sucessão familiar no grupo Pão de Açúcar? Abilio Diniz: O acordo prevê que, se por um acaso alguma coisa acontecer comigo durante os primeiros oito anos, a Ana, minha filha, me substitui. Valor: Daqui a alguns anos o Casino é o mais provável dono do Pão de Açúcar? Diniz: Não gostaria de fazer previsões. As coisas mudam muito rapidamente no mundo global. Nós temos um prazo pela frente de oito anos em que as coisas são absolutamente previsíveis porque estão contratadas. É claro que existem intenções, mas intenções são intenções, a realidade contratada é outra. A empresa não foi vendida. Valor: Mas existe uma opção de compra do Casino... Abilio: O que nós declaramos é que existem mecanismos de opção, tanto de compra quanto de venda. A primeira parte, depois do oitavo ano, e a segunda, para depois do décimo ano. É muito diferente de dizer que uma empresa foi vendida. O que vale em uma empresa não é controle do capital. É o controle do "management". Uma das coisas que eu coloquei logo de início para o Casino, quando começamos a negociar em janeiro de 2004, foi que eu conversaria sobre tudo, menos sobre abrir mão da gestão da empresa. Eles concordaram e fomos em frente. Valor: Como vai funcionar esse comando? Abilio: O comando é rigorosamente meu, com diretores brasileiros. Eu escolho o executivo, eu elejo o executivo, eu demito, eu faço o que quiser. Meu executivo elege a diretoria conforme aquilo que foi determinado por mim. Eu não sou apenas o presidente do conselho. Sou o elemento de ligação entre o conselho e a diretoria executiva. Valor: Foi pago um prêmio pelas ações. Como o sr. o classificaria? Abilio: É um prêmio de controle compartilhado. Não é prêmio de controle. Valor: Se o controle do Casino mudar, o que deve acontecer com o acordo? Abilio: Fica tudo rigorosamente como está, as cláusulas que foram contratadas agora terão de ser respeitadas. Valor: Se não for do seu interesse ficar com este eventual novo sócio, existe uma cláusula que prevê a sua saída? Abilio: Existem mecanismos de ajuste para frente. Valor: Como o Casino consolidará o investimento em seu balanço? Abilio: Agora, eles vão consolidar 50%, com base na legislação francesa, nos princípios contábeis deles. Até agora eles não consolidavam nada. Colocavam a CBD como uma operação de investimento financeiro em uma empresa que nem era do ramo. Valor: E o que acontecerá a partir do oitavo ano se o Casino exercer sua opção de aumentar a participação na holding em 0,5%? Abilio: Eles poderão consolidar 100%. Por isso é que a opção existe no contrato. Única e exclusivamente porque se eles tiverem um pouquinho mais de ações poderão consolidar 100%, o que para eles é muito importante e para nós não faz diferença nenhuma. Valor: Como será feita a venda das ações do sr. Valentim e de Lucilia Diniz? Abilio: O primeiro lote não será vendido em oferta pulverizada na bolsa. Como houve interesse de investidores, será uma venda privada. Eles vão comprar e segurar em carteira durante um determinado tempo. Existem até regras que os obrigam a segurar durante determinado tempo. Valor: Será feito assim para evitar pressão no papel e não provocar uma queda nos preços? Abilio: Exatamente. Valor: E como serão vendidas as demais ações de ambos? Abilio: Não sei. Fizemos uma escala para que elas fossem colocadas até o quinto ano. Valor: Por que o senhor é que vai comprar os imóveis da CBD? Por que não vendê-los a terceiros? Abilio: Ninguém estaria disposto a pagar o preço que eu paguei. Paguei acima da avaliação. Com as atuais taxas de juro, ou os investidores pagariam pouco, ou cobrariam muito pelos aluguéis. Não fiz isso porque sou bonzinho. Aí há realmente um toque emocional. Aceitei um ativo que, embora não tenha sido um grande negócio imobiliário, faz com que a minha família, meus filhos, meus netos fiquem com um vínculo com esta empresa por 40 anos. Valor: A venda de imóveis foi um bom negócio para os minoritários? Abilio: Foi um bom negócio para a CBD e para os minoritários.