Título: Eleição de prefeitas cresce, mas limita-se a 7% das cidades
Autor: Cristiane Agostine e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2004, Política, p. A-9

As mulheres ampliaram a participação na política nacional nas eleições municipais de 2004. Os resultados das urnas no primeiro turno revelam que as mulheres conquistaram 404 das 5.518 prefeituras do país, 87 a mais do que no pleito de 2000, o que representa um aumento de 27,4%. É o que revela estudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam), com base em dados preliminares fornecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao qual o Valor teve acesso. No Legislativo municipal, também se registrou um aumento da participação feminina. Foram eleitas 6.555 vereadoras de um total de 51.819 membros das Câmaras Municipais, ou 12,6% do total. Com este percentual, o Brasil supera o parâmetro internacional de participação feminina no Poder Legislativo que é de 12%. O número de prefeitas pode aumentar ainda mais, com o resultado dos 44 municípios que disputam o segundo turno. Em São Paulo, Belém, Teresina, Jaboatão, Santos e Caxias do Sul, seis candidatas do PT e uma do PMDB brigam por vagas nas prefeituras.

Apesar do aumento da presença feminina, a representação ainda é pequena. Dados preliminares do TSE mostram que 7,32% candidatas venceram a disputa pela prefeitura. As Câmaras Municipais terão 12,65% das cadeiras da Câmara ocupadas por vereadoras. Hoje, os números são ainda menores: 5,7% dos municípios têm prefeitas e 11,61% do total de vereadores são mulheres. Para a socióloga e assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), Giane Boselli, a conquista é pequena. "O número de vereadoras eleitas, por exemplo, reduziu em números absolutos e proporcionalmente subiu só um ponto percentual. A população continua não votando nas mulheres. Do ritmo que está, a mudança vai ser lenta. O Brasil tem um dos menores índices de representatividade das mulheres do mundo". Já o economista e demógrafo do Ibam, François de Bremaeker, considera que o desempenho das mulheres no pleito deste ano superou as eleições anteriores. "Foi o melhor resultado já conquistado pelas mulheres em pleitos municipais. Isso não significa que existe um sentimento em favor das mulheres. Esse desempenho pode ser explicado por fatores locais, pelas políticas de alianças características de cada município. A mulher não foi eleita porque era mulher e sim porque naquela região, as condições locais levaram a isso", diz Bremaeker. Na Câmara, a queda do número de homens eleitos foi 18 vezes maior que o de mulheres. As vagas diminuíram em 8 mil e a competição entre os candidatos aumentou sensivelmente. O levantamento realizado pelo CFEMEA, também feito com base em dados do TSE, mostra que no Nordeste a participação das mulheres é maior do que no Sul e Sudeste. "A presença feminina na política do Nordeste sempre foi maior, desde os anos 20. Isso se deve à estrutura de grau de parentesco que faz com que as candidaturas sejam legitimadas pelas próprias famílias. Quando se tem indicação da própria família, o poder fica na família e os recursos são maiores. Pode levar a uma vitória emblemática dos clãs", explica Lucia Avelar professora titular da UNB. O número de candidatas aumentou, mas a aprovação é menor em relação a 2000. Neste ano, 1498 mulheres concorreram ao cargo de prefeita e 26,96% venceram. Em 2000, 27,83% das 1139 candidatas conseguiram a vaga. Na Câmara, ocorreu fato semelhante: em 2004, 8,56% das 76.551 mulheres foram aprovadas e em 2000, a porcentagem foi de 9,95% das 70.321 candidatas. No Congresso, a representação feminina também é pequena. Na Câmara, são 45 deputadas e 468 homens. Giane explica que as mulheres enfrentam preconceito e discriminação dentro dos partidos. "Com financiamento reduzido, elas têm muita dificuldade na campanha. Os recursos ficam para a campanha dos homens. No Sul e Sudeste, a competitividade pelos recursos é maior e as grandes campanhas são masculinas. No Nordeste, a competição financeira não é tão grande".