Título: Parcerias impulsionam pesquisas com genomas
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 10/05/2005, Agronegócios, p. B14

As empresas de biotecnologia, que no fim dos anos 90 fizeram uma corrida solitária para decifrar o mapa genético de plantas, reforçam as apostas nas parcerias para desenvolver produtos e se manter competitivas no mercado. No Brasil, institutos de pesquisa e empresas investiram aproximadamente R$ 108,6 milhões nos últimos cinco anos para seqüenciar o genoma de plantas e pragas. Para pesquisadores ouvidos pelo Valor, a detenção desses bancos torna o Brasil potencial alvo de investimentos para pesquisas com transgênicos. "Os recursos financeiros e humanos disponíveis para gerar esses bancos são limitados. As parcerias tornam-se uma questão de sobrevivência para se manter competitivo", diz José Manuel Cabral, chefe geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. No Brasil, a Embrapa, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Alellyx (controlada pelo grupo Votorantim Novos Negócios) e o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC, que pertencia à Copersucar) buscam ampliar as suas redes de parceiros para dar prosseguimento às pesquisas com produtos geneticamente modificados. Na área privada, o CTC, que investe R$ 36 milhões por ano em pesquisa com biotecnologia, participa de um consórcio com 17 empresas de 13 países para desenvolver novas variedades de cana (incluindo transgênicas). "O interesse principal é ter direito sobre a tecnologia criada por essas empresas e cobrar royalties pelo seu uso", diz William Lee Burnquist, coordenador de tecnologia do CTC. Ele afirma que o CTC cobra R$ 13 por hectare plantado de variedades desenvolvidas pelo centro, mas não tem previsão do potencial de negócios dessas parcerias. A Alellyx, que já investiu mais de US$ 20 milhões no seqüenciamento do genoma da cana, ainda atua sozinha no mercado, mas busca parceiros para desenvolver variedades transgênicas de cana, eucalipto e laranja. "A empresa não fechou parcerias por falta de proposta interessante", diz Fernando Reinach, presidente da Alellyx. Orlando Melo de Castro, diretor-geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) - que participa de consórcio responsável pelo seqüenciamento do genoma do café - afirma que a procura das empresas ainda é restrita. "Acredito que elas entrarão numa fase mais avançada das pesquisas sobre funcionalidade dos genomas." Ele diz que um grupo de empresas privadas se associou ao IAC para pesquisar o amendoim e a cana-de-açúcar. O Instituto também participou, da pesquisa financiada pela Fapesp para seqüenciar os genomas da Xylella fastidiosa (bactéria da cana-de-açúcar) e do café. A maior parte das seqüências de genoma desenvolvidas no Brasil é de propriedade da Embrapa, que formou bancos com seqüenciamento do café (desenvolvido em parceria com dez instituições de pesquisa), do eucalipto (criado em parceria com 11 empresas privadas e sete universidades) e da banana (em conjunto com Universidade Católica de Brasília e o instituto francês CIRAD-Fhlor). A Embrapa ainda trabalha no seqüenciamento do arroz (com cinco instituições de pesquisa), do melão (com a Vitória Agrícola), do cajueiro e do boi (com a Central Bela Vista). Ao todo, os investimentos nessas pesquisas atingiram em torno de R$ 18,6 milhões, dos quais R$ 3,5 milhões vieram da iniciativa privada. "O avanço das pequisas passa pelo acesso ao genoma. Quem tem um banco de genoma tem um potencial gerador de negócios", diz Elibio Rech, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Rech observa que o potencial de negócios depende de acordos, que podem ser de cobrança pelo acesso ao banco de genoma, de royalty sobre o produto desenvolvido a partir da pesquisa do genoma, entre outros. Estudo da FAO (braço das Nações Unidas para agricultura e alimentação) aponta Brasil como um dos principais países em desenvolvimento que realizam estudos avançados na área genômica, especialmente, com mamão, arroz, batata e sorgo.