Título: Apoio de Maluf a Marta só deve render votos na periferia da cidade
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 15/10/2004, Política, p. A-10

Caso se confirme o apoio oficial do ex-governador paulista Paulo Maluf (PP) à prefeita de São Paulo e candidata à reeleição, Marta Suplicy (PT), a prefeita deve avançar alguns pontos percentuais na periferia da cidade, onde já ganhou na maioria dos distritos no primeiro turno. O voto malufista nos bairros de classe média deve ir quase em sua integridade para o tucano José Serra. Esta é a tendência que sobressai com a análise da evolução do voto malufista nas últimas cinco eleições para prefeito e pelo precedente de 2002, quando Maluf ficou fora do segundo turno para governador e apoiou José Genoino (PT) na rodada decisiva, contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB). É ainda o que indica as pesquisas do Datafolha e do Ibope, que mostram uma inclinação de 70% dos malufistas em votar no PSDB. Como a diferença a favor de Serra no primeiro turno foi de oito pontos, o apoio de Maluf a Marta a beneficia, mas não tira o favoritismo do tucano. Maluf anuncia sua posição na tarde de hoje. A tendência do voto malufista ir para Serra pode ser observada com nitidez nos bairros de classe média da Mooca e Vila Maria. Na Mooca, Maluf obteve 34% dos votos quando concorreu a prefeito em 1988, percentual que se elevou para 48% em 1992 e chegou a 54% para o afilhado político Celso Pitta em 1996. Esta escalada malufista foi possível com o fim do janismo (na primeira eleição, João Mellão, do PL, com apoio janista, teve 7% dos votos no bairro) e com a migração de votos petistas. Entre 1988 e 1996, a votação do PT caiu sete pontos na Mooca. Entre 1996 e 2004, o movimento foi inverso. O malufismo se desmontou, caindo da maioria absoluta para 17% no primeiro turno deste ano. O PT voltou para o lugar que estava: Marta obteve 23% dos votos na Mooca, quase igual aos 24% que o partido conseguiu com Luiza Erundina em 1988. O PSDB recolheu a diferença. Serra conseguiu 16% do total há oito anos e 53% há doze dias. Na Vila Maria, ocorreu o mesmo. Maluf foi de 28% para 53% na expansão entre 1988 e 1996 e recuou para 20% no este ano. O PT mantém-se no mesmo patamar há dezesseis anos. Serra pulou de 13% em 1996 para 48% agora. Esta nitidez desaparece na periferia da Zona Leste, como Itaim Paulista. Lá, onde o malufismo sempre foi mais fraco que no resto da cidade, o desmonte de seu legado foi repartido entre tucanos e petistas. Durante sua expansão, Maluf passou de 13% em 1988 para 39% em 1996, ganhando espaço em cima dos votos do PSDB e do PMDB, que caíram no período de 26% para 14%. O petismo ficou onde estava. Erundina recebeu 29% dos votos em 1988 e 28% oito anos mais tarde. Este ano, o PT subiu para 46% e os tucanos evoluíram para 34%. Maluf despencou para 9%. Nas eleições de dois anos atrás, a transferência de votos malufistas para Genoino diminuía à medida em que o distrito eleitoral se afastava da periferia. Mas a migração foi pequena mesmo nos bairros mais pobres. No Itaim Paulista, o petista obteve 35% no primeiro turno e 41% no segundo. Maluf ficou com 19% dos votos. Já nos Jardins, o distrito mais rico da cidade, Genoino teve 19% dos votos no primeiro turno e 20% no segundo. Maluf teve 25% no bairro e não transferiu quase nada para seu escolhido. O comportamento do eleitor nos Jardins e na Mooca evidencia a dificuldade do PT nas áreas ditas nobres. Marta teve 20% dos votos no primeiro turno nos Jardins, mesmo patamar da Mooca. Muito antes do PSDB surgir e de Maluf suplantar o janismo, quando o PMDB era a grande força eleitoral da cidade, o petismo já definhava nos bairros centrais. Em 1982, concorrendo para governador, Lula teve 14% dos votos em São Paulo. Nos Jardins e na Mooca, recebeu 10%. Na periferia, se deu melhor: bateu Jânio Quadros e o malufista Reynaldo de Barros nos distritos de Campo Limpo, Capela do Socorro e Itaquera, todas áreas em que Marta venceu este ano.