Título: O silêncio dos depoentes
Autor: Oliveira, Noelle; Boechat, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 30/03/2010, Cidades, p. 29

caixa de pandora

Sete das 12 pessoas que prestaram depoimento ontem na Polícia Federal ficaram caladas, entre as quais o ex-governador José Roberto Arruda

A mesma defesa que argumentou no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) que José Roberto Arruda nunca havia sido ouvido a respeito das denúncias relacionadas à Operação Caixa de Pandora, desta vez preferiu que o ex-governador permanecesse calado. Por orientação do advogado Nélio Machado, Arruda manteve o silêncio durante o aguardado depoimento no início da tarde de ontem na Superintendência Regional da Polícia Federal. A defesa apresentou ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma petição assinada por Arruda na qual constam os motivos pelos quais ele estaria impossibilitado de depor. No mesmo documento, os defensores reiteraram o pedido de revogação de prisão do governador cassado e pediram que a resposta seja concedida até hoje. Além de Arruda, outros seis dos 12 depoentes ouvidos ontem optaram pelo silêncio.

Nós não tivemos acesso à investigação como um todo. O governador fez questão de declinar que ele gostaria de falar, principiou a dizer algumas coisas, mas eu reiterei a minha orientação de que não abro mão da legalidade. O Ministério Público sabe tudo o que apurou, o delegado de polícia provavelmente também e eu só vou permitir que o governador se manifeste de forma plena quando eu tiver acesso irrestrito à apuração feita até agora, explicou Nélio Machado, que compareceu ao depoimento do governador acompanhado dos advogados Thiago Bolza e Cristiano Maronna. Na última sexta-feira, Machado havia garantido que Arruda falaria e destacou que faltava apenas traçar os passos do depoimento. Ele vai falar, lógico, porque a rigor reclama há muito tempo por essa oportunidade, disse, na ocasião.

O ex-secretário de comunicação do GDF Welligton Moraes foi outro que decidiu se calar durante o depoimento, que ocorreu pela manhã, no Complexo Penitenciário da Papuda, onde está preso desde 12 de fevereiro. Segundo o advogado de defesa de Moraes, Marcelo Bessa, o motivo é o mesmo alegado por Arruda: a falta de acesso aos autos do processo. O ex-chefe da Unidade de Administração-Geral da Secretaria de Educação Gibrail Gebrim depôs às 14h e também optou pelo silêncio. Vamos usar o direito constitucional de não responder às perguntas, porque não conhecemos o processo, afirmou o advogado José Safe Carneiro.

Marcelo Carvalho, braço direito do ex-governador Paulo Octávio e que aparece em gravações com Durval Barbosa, depôs por volta das 17h. Segundo o advogado Carlos Machado de Almeida Castro, o Kakay, o cliente também se calou. Kakay está em viagem no exterior e não acompanhou Carvalho. O ex-diretor do Na Hora Luiz França também compareceu à oitiva e nada falou. O empresário Renato Malcotti, que não estava na lista dos depoimentos previstos para o dia, resolveu comparecer à PF por conta própria, mas também não respondeu às perguntas.

Explicações Por outro lado, Leonardo Prudente, ex-presidente da Câmara Legislativa, aproveitou a oportunidade para se defender. Ele, Alcir Collaço, dono do jornal Tribuna do Brasil, e o ex-secretário de Educação José Luiz Valente também falaram. De acordo com o advogado de Prudente, Herman Barbosa, o ex-deputado respondeu todas as indagações feitas pela autoridade policial. Não é questão de declarar inocência ou culpabilidade, é relatar os fatos como eles aconteceram, apenas isso, disse. No interrogatório, Prudente negou que tenha participado de qualquer repasse de verbas e reafirmou que o dinheiro que aparece colocando nos bolsos e nas meias, em vídeo gravado por Durval Barbosa, teria fins eleitorais. Ele manteve a mesma resposta que já tinha dado na Câmara, trata-se de dinheiro de campanha, explicou o advogado.

O ex-assessor de imprensa de Arruda, Omézio Pontes, por sua vez, livrou-se do depoimento. Ele foi dispensado por um dos delegados da Polícia Federal responsáveis pelo caso. De acordo com Ticiano Figueiredo, advogado de defesa, Omézio se pronunciou sobre o tema em 1º de fevereiro. E, desde então, nenhum fato novo teria surgido para justificar outra oitiva. O ex-assessor deveria ter prestado depoimento em 28 de janeiro deste ano, mas não compareceu. Alegou que não recebeu a intimação da PF. Em 1º de fevereiro, ele cumpriu a notificação e compareceu à Superintendência da Polícia Federal. Nada colaborou com as investigações. Utilizou o artifício constitucional de permanecer calado. Os advogados alegaram que o cliente só falaria quando tomasse conhecimento das provas contra ele.

Geraldo Maciel, ex-chefe da Casa Civil, também foi dispensado do interrogatório. A Polícia Federal não informou se José Abdon, dono da AB Produções, que prestava serviços de publicidade para Arruda, falou ou não durante seu depoimento. Ele deixou a Superintêdencia da PF com o rosto tampado. Os depoimentos de hoje só serão divulgados durante o dia pela Polícia Federal.

Só vou permitir que o governador se manifeste de forma plena quando eu tiver acesso irrestrito à apuração feita até agora

Nélio Machado, advogado de Arruda

José Safe Carneiro, advogado de Gibrail Gebrim