Título: Acordos com Coréia começam com US$ 4 bi
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 23/05/2005, Brasil, p. A5

A Companhia Vale do Rio Doce dará um passo importante amanhã para viabilizar projeto de investimento bilionário no setor siderúrgico no Maranhão. O presidente da empresa, Roger Agnelli, e seu diretor-executivo, José Carlos Martins, assinarão memorando para a criação de joint-venture com a Pohang Iron and Steel Co. (Posco), maior siderúrgica da Coréia do Sul e terceira maior do mundo. O acordo, que da parte dos coreanos será assinado pelo presidente da Posco, Ku Taek Lee, e pelo vice-presidente da empresa, Young Tae Kwon, prevê a realização de estudo sobre a viabilidade da associação, destinada à produção anual de até 7,5 milhões de toneladas no complexo siderúrgico a ser construído no Maranhão. O projeto envolve o desembolso de US$ 2,5 bilhões. A assinatura do acordo, confirmado por documento do governo brasileiro, será testemunhada amanhã pelos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Coréia, Roh Moo-Hyun. O passo que está sendo dado é importante porque, nas últimas semanas, a Posco ameaçou desistir do projeto com a Vale, em troca de investimento na Índia, onde o governo lhe ofereceu incentivos fiscais. Teria pesado na decisão coreana a intenção do governo brasileiro de suspender a cobrança do PIS e da Cofins na aquisição de bens de capital (máquinas e equipamentos) para plataformas de exportação. Pesou também o relacionamento existente entre a Vale e a Posco. Em 1996, as duas empresas se associaram para criar a Kobrasco (Companhia Coreano-Brasileira de Pelotização), que produz, em Vitória, 4,5 milhões de toneladas de pelotas de minério de ferro por ano. No acordo que assinarão amanhã, a Vale e a Posco se comprometem a avaliar a expansão da capacidade produtiva da Kobrasco, elevando-a para 6 milhões de toneladas de pelotas por ano. Outro acordo importante que será firmado amanhã, em Seul, envolve a Eletrobrás e a Korea Eletric Power Corporation (Kepco). Pelo acordo, a empresa coreana investirá, nos próximos sete anos, cerca de US$ 1,5 bilhão em projetos de geração, transmissão e distribuição de energia. Num terceiro acordo, a Vale, o BNDES, o Banco do Nordeste, o governo do Ceará e a Usina Siderúrgica do Ceará firmarão entendimento com a siderúrgica coreana Dongkuk Steel Mill e a empresa Danieli & C. Office Meccaniche para montar financiamento destinado a viabilizar a produção de placas de aço em São Gonçalo do Amarante (CE). Por causa do negócio, o governador cearense Lúcio Alcântara, do PSDB, estará em Seul amanhã, ao lado de Lula, para assinar o acordo. Outros três contratos serão assinados na Coréia, durante a visita do presidente Lula, que começa hoje e termina na quinta-feira, quando ele e sua comitiva seguirão para Tóquio. Um deles vai firmar parceria entre o Banco do Brasil e o Eximbank da Coréia para estimular o aumento do intercâmbio comercial entre os dois países. Outro acordo será assinado entre o BNDES e o Eximbank coreano e um terceiro, entre a Apex e a Kotra, as respectivas agências de promoção comercial de Brasil e Coréia. Apesar das iniciativas na área comercial, o foco do presidente Lula e sua delegação, na visita a este país oriental, é atrair investimentos para o Brasil. A Coréia tem uma economia fechada que compra do mercado brasileiro essencialmente produtos básicos - minério de ferro, milho em grão, óleos brutos de petróleo, farelo de soja, algodão, fumo, café, peixes congelados etc. Como 10º maior exportador para o Brasil, a Coréia vende, em sua maioria, aparelhos e componentes eletroeletrônicos, além de automóveis, máquinas e equipamentos. Embora esteja crescendo de forma consistente, o comércio entre os dois países ainda é modesto - US$ 3,1 bilhões em 2004, com saldo negativo para o Brasil de US$ 301 milhões. Como atesta o embaixador brasileiro em Seul, Pedro Paulo Assunção, não é fácil vender para os coreanos. O frango brasileiro, por exemplo, liberado em março para apenas quatro grandes exportadoras nacionais, levou 12 anos para ser aceito pela vigilância sanitária da Coréia. Diante disso, o interesse do Brasil é fazer dos coreanos sócios do desenvolvimento brasileiro. Na quarta-feira, o presidente Lula terá café da manhã com um grupo seleto de 14 empresários coreanos. A lista de confirmação, obtida pelo Valor, mostra que estarão com Lula os presidentes de companhias pesos pesados - Hyundai, Kepco, Posco, SK Corporation, Dong-a Pharm. Co. (Kang Shin-Ho, que também preside a FKI, a CNI coreana), Macrogen, CJ Company, Dongkuk Steel Mill, LS-Nikko Copper, Kita, Samsung e LG, e Banco de Desenvolvimento da Coréia. Os coreanos ocupam a 32ª posição no ranking dos maiores investidores diretos no Brasil, com estoque de US$ 264,4 milhões. A expectativa dos próprios coreanos é alcançar US$ 4 bilhões em sete anos.