Título: Dobradinha francesa amplia microcrédito
Autor: Silvia Torikachvili
Fonte: Valor Econômico, 24/05/2005, EMPRESA & COMUNIDADE, p. F4

Foi um negócio de francês para francês, mas quem saiu ganhando foi o pessoal da periferia na zona sul de São Paulo, que hoje pode ter acesso rápido, simples e justo ao microcrédito. O presidente do Banque Société Générale Brasil, François Dossa, e Alain Delcourt, diretor da organização social Empreenda, acertaram uma parceria que levou a um financiamento para o início das atividades da empresa de microcrédito e estimulou os voluntários do banco a promover a capacitação dos novos colegas bancários. "Como qualquer outro cidadão, pobre também precisa de dinheiro", diz Delcourt, resumindo a facilidade com que localizou esse nicho no mercado. De fato, o microcrédito é reconhecido internacionalmente como a ferramenta mais poderosa contra a pobreza, desde que começou a ser aplicado há mais de 30 anos, em Bangladesh. Diante de tal argumento, Dossa, do Société Générale, ofereceu um empréstimo de R$ 100 mil à Empreenda com três anos de carência e cinco anos de reembolso. Além disso, disponibilizou voluntários do banco para investirem dez horas livres por mês para qualificar os funcionários que trabalham nas áreas jurídica e de contabilidade da Empreenda. "A capacitação dada pelos voluntários foi perfeita", diz Delcourt. "Afinal, temos tudo em comum, porque também somos um banco". A atividade da Empreenda começou no início do ano, mas Delcourt já vem colhendo frutos. "No princípio, procurávamos pelos clientes, visitando os locais de trabalho e explicando que estávamos oferecendo um empréstimo", conta ele. "Hoje, eles é que nos procuram. No microcédito é assim: cada cliente rende outros quatro ou cinco". Embora o negócio ainda seja novo, Delcourt e Dossa prevêem um grande futuro. Muitas vezes, tudo o que um pequeno empreendedor precisa para fazer crescer seu negócio é um empréstimo de R$ 500. No caso da Empreenda, o resgate é feito num prazo de cinco meses. "O tomador paga cinco parcelas de R$ 113,00, resolve seu problema de caixa e tem mais tempo para dedicar ao trabalho sem a preocupação com pagamento das dívidas", diz Delcourt. A taxa de juros cobrada é de 3,99% ao mês. Os voluntários do Société garantem a manutenção para que todas as áreas do minibanco funcionem em harmonia. "São eles que resolvem problemas pontuais na área de sistemas, ajudam na profissionalização dos funcionários e colaboram na análise dos pedidos de empréstimo", diz Delcourt. Esses empréstimos baixos, que afastam pequenos empreendedores do sistema financeiro tradicional, garantem a compra de matérias-primas, máquinas e mercadorias. Na Empreenda, os empréstimos são de R$ 1.200,00, em média. A carteira de crédito é de R$ 150 mil e a inadimplência mal bate nos 3%. Delcourt acredita que o sistema de microcrédito ainda pode crescer muito no Brasil. Hoje, apenas 1% dos empreendedores brasileiros é atendido pelo sistema de pequenos empréstimos, enquanto esse contingente chega a 27% na Bolívia, segundo Delcourt. "Esse sistema de empréstimo pode ser a grande saída para o trabalhador informal", diz. "Microcrédito é uma forma de incentivar a formalidade".