Título: Governo apóia proposta da TAP
Autor: Daniel Rittner e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Empresas &, p. B1

Aviação Estatal portuguesa diz que colocará dinheiro novo na Varig e terá 20% das ações

O governo deu ontem um sinal de apoio político ao plano de reestruturação da Varig e recebeu diretamente da TAP uma promessa de que a estatal portuguesa colocará algum dinheiro novo para recuperar as finanças e assumir 20% da companhia brasileira. David Zylbersztajn, presidente do conselho de administração da Varig, previu que as negociações devem ser concluídas em quatro a seis meses, com a atração de outros investidores e o lançamento de ações para levantar recursos no mercado financeiro. O plano foi apresentado em reunião no Palácio do Planalto com a participação dos ministros José Alencar (Defesa), José Dirceu (Casa Civil) e Antônio Palocci (Fazenda). Na descrição de um graduado funcionário do governo, que acompanha as discussões e esteve no encontro, os ministros viram a proposta "com muito entusiasmo". Diferentemente do que vinha ocorrendo, a Fazenda e a Casa Civil foram incluídas nas conversas em torno de uma "solução de mercado" para a Varig. "Os ministros aprovaram a proposta quanto ao seu conteúdo e à sua exeqüibilidade", afirmou Zylbersztajn, evitando entrar em detalhes. Mas a reunião foi política e, apesar do apoio demonstrado com a presença maciça de ministros, o governo não se comprometeu com nenhuma medida para aliviar a situação da Varig, de acordo com uma fonte que acompanha o plano da TAP. Foram apresentadas linhas gerais do projeto, sem detalhes. Até porque as idéias em estudo ainda estão em estado bastante preliminar e encontram obstáculos de várias naturezas. O principal deles é a adesão de credores externos e empresas de leasing. Segundo Zylbersztajn, o contrato de exclusividade da TAP para negociar com a Varig será prorrogado na próxima semana. O presidente da estatal portuguesa, Fernando Pinto, garantiu que haverá um aporte de capital da TAP para dar fôlego à Varig. "O volume de capital que entrará na Varig é muito grande e tem todo um processo de capitalização com a entrada de aviões", assegurou Pinto, confirmando que a aérea dirigida por ele terá participação acionária de 20%, limite permitido pela Constituição brasileira para a fatia estrangeira de uma empresa nacional no setor aéreo. Ele informou que o plano de reestruturação se tornará público "nas próximas semanas". A anunciada solução para a Varig chega em um momento de declínio da empresa no mercado doméstico. Números preliminares do DAC indicam que a Gol ampliou a vantagem sobre a Varig na vice-liderança dos vôos nacionais. Segundo Pinto, que dirigiu a Varig entre 1996 e 2000, os contatos feitos pela TAP nas últimas semanas, com credores externos, tiveram bons resultados. "Faltava o credor interno, que é o governo", avaliou. De acordo com uma fonte que acompanha o plano da TAP, entretanto, os credores externos e as empresas de leasing ainda não se comprometeram em nada. Segundo uma fonte do Palácio do Planalto, há disposição para renegociar dívidas da Varig com o governo, mas elas serão discutidas caso a caso. A Infraero sinalizou que aceita reabrir discussões sobre o débito de R$ 132 milhões que a aérea acumula pelo calote de taxas aeroportuárias, só em 2004. Fernando Pinto aproveitou para desfazer dois boatos. Primeiro: esclareceu que a injeção de capital na Varig não aumenta o endividamento do governo português nem esbarra em restrições fiscais da União Européia. Segundo: garantiu que "todas as operações domésticas e internacionais da Varig continuam da mesma forma". Havia especulações sobre o cancelamento de linhas operadas na maioria das capitais européias e a concentração de vôos em Lisboa.