Título: Conferência debate parcerias para gestão ambiental
Autor: Silvia Torikachvili
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Empresas &, p. B2

Recuperar os milhões de hectares do estrago produzido durante décadas na bacia do Rio Xingu, no Mato Grosso, tem preço e tempo: R$ 100 milhões em dez anos. A estimativa é de Márcio Santilli, do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental (ISA), um dos comandantes da campanha Y Ikatu Xingu, que reuniu lideranças de 35 municípios de Mato Grosso no final de 2004 durante o Encontro das Nascentes do Rio Xingu com o objetivo de estancar o desmatamento e recuperar matas ciliares e recursos hídricos. "Temos muito a aprender com os índios", reconhecem os fazendeiros. "Os brancos têm muito a nos ensinar", declaram os representantes dos índios da região. Essa inusitada sociodiversidade foi apresentada ontem na mesa-redonda "Desenvolvimento de Parcerias para a Gestão de Recursos Naturais", durante o segundo dia da Conferência Internacional do Instituto Ethos. Os números da evolução do desmatamento na região de entrada da Amazônia convenceram todos os atores da campanha: 2,38 milhões de hectares era o tamanho do desmatamento da região em 1994. Em 2004 a degradação chegava quase aos 5 milhões de hectares. "Estamos numa fase de grande transição agrícola", disse Ocimar Villela, diretor de Meio Ambiente do Grupo André Maggi. "Vamos passar em breve para a era da ecoagricultura." A nova ordem em que a recuperação das matas é o foco das preocupações de boa parte dos atores que habitam a região da bacia do Xingu tem como grande participante o pecuarista William Cury. Durante 40 anos Cury fez parte daquele contingente de fazendeiros incentivados a desbravar as matas, a produzir sem nenhuma orientação, sem qualquer acompanhamento e sem grande preocupação com o meio ambiente. "Foi por falta de informação, ignorância e até desentendimento", reconhece Cury. "Nenhum governo durante as últimas décadas teve como foco principal a conservação do meio ambiente." A conscientização, segundo Cury, veio quando os filhos assumiram a frente dos negócios. "O produtor rural será o maior beneficiado na questão ambiental; e se não houver conscientização, agora, não haverá solução para as próximas gerações", avisa Cury. "O desmatamento que cometi foi contra mim mesmo". Reconhecer e reconsiderar, transformar a mentalidade, reunir saberes de diferentes culturas em benefício de todos os povos da região é o primeiro passo da campanha que conclama empresários, pecuaristas, fundações, organizações sociais em geral e sociedade civil a participar. "O problema da Amazônia não é de política pública", diz João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. "Precisamos desenvolver uma proposta de ação e planejamento estratégico em que a floresta em pé tenha maior valor que aquela transformada em pasto ou soja". Ao mesmo tempo em que o desafio é recuperar as matas, Capobianco lembrou que muitos produtores ainda desmatam - mesmo tendo conhecimento de uma lei que, desde 1965 obriga a preservação da reserva legal. Entre os mais de mil produtores, pecuaristas e fazendeiros da região, Márcio Santilli, do ISA, calcula que cerca de 40 já teriam aderido ao pacto de recuperação das nascentes e das matas na bacia do Xingu. "Quem tem consciência do que está acontecendo tem a responsabilidade de disseminar essas informações", diz William Cury. "A proposta do ISA deve ser copiada e multiplicada em todas as regiões em que o desmatamento vem acabando com as culturas. É uma solução em favor do homem, que é o elemento mais importante do meio ambiente."