Título: Fábricas buscam o exterior para compensar a retração
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 16/06/2005, Empresas &, p. B9

Cimento Votorantim, Cimpor e CP Cimento avançam sobre EUA e África

Fabricantes brasileiros de cimento vêm buscando o caminho da exportação como uma saída para a estagnação do consumo interno e para a elevada ociosidade das fábricas no país, que supera 40% na média do setor. Há casos de empresas com até 50%. Além da Votorantim Cimentos, que está desde 2003 embarcando para os EUA, outras indústrias fazem planos para o mercado externo. A portuguesa Cimpor está levando o produto para países da África e tem planos mais arrojados de ampliar os embarques. A CP Cimento leva avante um projeto para entrar no mercado da Flórida, EUA, ainda este ano. Com a maior agressividade de Votorantim e Cimpor a partir de 2003, o Brasil bateu recorde histórico de vendas ao exterior no ano passado: 550 mil toneladas. É um volume ainda baixo comparado a países exportados do calibre de Turquia, Japão, Tailândia e Índia, com mais de 9 milhões de toneladas cada um por ano. Neste ano, as duas empresas nacionais deverão alcançar 800 mil toneladas. A Camargo Corrêa Cimentos, que vende pequenos volumes de cimento cinza para países fronteiriços, como Paraguai, é grande exportadora de cimento branco. O produto, no entanto, tem baixa escala. A empresa, agora, acaba de adquirir a maior cimenteira da Argentina e fez uma parceria de produção no Paraguai. Alguns mitos na exportação de cimento já foram quebrados, como o de empedramento do produto, eliminado com novas técnicas. Cerca de 7% da produção mundial, de mais de 2 bilhões de toneladas anuais, é comercializado entre países ensacados ou a granel. Existem navios especializados, aptos a carregar até 60 mil toneladas, como os da classe Panamax. Mas os mais comuns são embarcações de 20 mil a 30 mil toneladas. Os Estados Unidos são o mercado mais atrativo para empresas de todo o mundo: no ano passado importou mais de 26 milhões de toneladas para complementar sua produção e poder atender a demanda local. O consumo no país beira a marca de 120 milhões. Embarques da África pela Costa, ao sul, da região do Caribe, no norte, oriundo do Canadá, e de países asiáticos pela costa oeste. A CP Cimento, que controla as fábricas Cimento Tupi e Cia. de Cimento Ribeirão Grande, com operações no Rio, Minas e São Paulo, já assinou com a companhia Docas, do Rio, e com a fabricante de alumínio Valesul um contrato para montar um terminal no porto de Sepetiba, em Itaguaí. Vai usar parte da área da Valesul, que está ociosa. "Vamos investir R$ 18 milhões nas instalações do terminal, que incluem silos, equipamentos de transporte do produto e de carregamento nos navios", informa Demétrio Simões, diretor de relações com investidores da CP Cimento. O cimento virá da unidade da Tupi em Volta Redonda, a cerca de 100 km do porto, transportado em trens da MRS Logística. O contrato foi firmado com o porto em novembro de 2004 e segundo o executivo já obteve a licença ambiental. As obras, que começaram em maio, vão durar entre seis e sete meses. "Esperamos fazer o primeiro embarque antes do fim do ano", disse Simões. As instalações, de acordo com o executivo, vão ter capacidade para embarcar 1 milhão de toneladas por ano. Os planos da empresa são de começar com 50 mil toneladas por mês e alcançar o nível de 80 mil ao fim de um ano. Os contratos de vendas vêm sendo negociados com distribuidores, concreteiras e produtores americanos baseados em Tampa, no Estado da Flórida. Em uma segunda fase, informa Demétrio, a própria CP Cimento deverá montar bases na Flórida para receber o produto e fazer a venda a consumidores locais. Cimento não falta: a empresa tem capacidade de 3,7 milhões de toneladas em suas três unidades industriais. As vendas no país, este ano, estão previstas para 1,7 milhão de toneladas. "Exportação é uma tentativa para ocupar capacidade ociosa, pois não há expansão do mercado interno", disse. Segundo informações, a Votorantim Cimentos prevê exportar cerca de 600 mil toneladas este ano, quase o dobro do volume de 2004. E seus planos seriam de incrementar a cada ano os embarques para Flórida e região dos Grandes Lagos (EUA e Canadá), onde tem operações fabris e de distribuição. Procurada, a empresa não dispôs de nenhum executivo para falar sobre o assunto. Os embarques da companhia são feitos a partir da fábrica Cimesa e de terminais portuários localizadas em Sergipe. O grupo investiu em torno de US$ 180 milhões na expansão da fábrica, que dobrou sua capacidade, e na logística.