Título: Arthur Virgílio vai à tribuna e ataca Lula
Autor: Mauro Zanatta e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2005, Política, p. A7

Crise Líder tucano no Senado diz que presidente é "idiota, na melhor das hipóteses" ou "corrupto" na pior

Parlamentares de oposição ao governo no Senado acusaram ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de envolvimento direto nas denúncias de corrupção contra o governo. Inflamados por um duro discurso do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do partido, os parlamentares acusaram Lula de ser "omisso, conivente e cúmplice da corrupção" no governo. Virgílio foi além ao afirmar que "na melhor das hipóteses, senhor Lula, o senhor é um idiota. Na pior, o senhor é um corrupto." O presidente foi informado, em Paris, sobre os ataques mas não quis comentá-los. A Advocacia-Geral da União (AGU) informou que aguarda um posicionamento do presidente Lula para ingressar com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o líder. Lula terá de fazer um pedido formal para a AGU acionar Virgílio. Será uma decisão política e pessoal do presidente. Irritado com a revelação do deputado Henrique Fontana (PT-RS), na sessão da madrugada de ontem, na CPI dos Correios, de que a empresa Skymaster, envolvida nas investigações, contribuiu para sua campanha ao Senado, Virgílio assumiu a tribuna para atacar Lula, seus "meganhas" parlamentares e, sobretudo, a cúpula do PT. "Não sou Sílvio Pereira, Delúbio Soares nem José Dirceu. Não sou membro desse governo corrupto do presidente Lula da Silva", disse Virgílio. "Não sou do PT. Não faço caixinha. Não busco propinas. Neste governo, dá mais ladrão do que chuchu em pé de ribanceira". E seguiu no ataque ao afirmar que Lula sabia da corrupção: "Vamos acabar com essa história de que Lula não sabe de nada. Até o meu filho de dez anos sabe. Ou ele é um completo idiota ou Lula sabe, sim, de toda a corrupção que se passou embaixo do seu nariz". Ele defendeu a doação de R$ 50 mil da Skymaster, acusada pela CPI de causar prejuízos aos Correios num contrato do serviço de transporte aéreo noturno. "Não tem nada de ilegal". Segundo ele, a doação significou 3,8% do total de R$ 1,6 milhão de sua campanha. E acusou Lula de ter R$ 12,9 milhões em doações "não explicadas" de empreiteiras e empresas de coleta de lixo. No mesmo tom, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) afirmou que Lula é o "maior responsável pela corrupção em seu governo". Segundo ele, o presidente não exerce a autoridade do cargo, tornando-se "omisso, conivente e cúmplice da corrupção que surge dentro de seu governo". O senador Leonel Pavan (PSDB-SC) afirmou que, no Palácio do Planalto, "todos são suspeitos, inclusive o presidente". "Lula e o PT ressuscitaram o clima do governo mais corrupto, o do Collor". "É evidente que não foi ingênua a citação ao senador Arthur Virgílio. É uma provocação", disse o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse que as reações dos tucanos foi um "ataque político rebaixado". Para o petista, a postura do PSDB explica-se pela melhora dos indicadores da economia e porque a última pesquisa CNT/Sensus revelou que "a população confia no presidente Lula e sabe que ele não está envolvido nas denúncias de corrupção". O PSDB também atacou a atitude de Fontana. Pivô das desavenças, Fontana pediu ao PSDB o mesmo critério de não fazer insinuações sobre as contas da campanha eleitoral de Lula. "Faltou postura e altivez ao senador Virgílio quando reagiu de maneira destemperada", afirmou. Virgílio chamou Fontana de "deputado da meia-noite" e de "vampiro da Saúde", em alusão à sua atuação na chamada bancada da Saúde e as denúncias de corrupção contra a gestão do ex-ministro Humberto Costa. Fontana disse, na tribuna da Câmara, que apenas perguntou ao dono da Skymaster e não fez denúncia contra Virgílio. O ataque de Virgílio ao presidente Lula foi rebatido em plenário pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Num longo bate-boca com Suplicy, disse que a oposição tem "paciência" para levar Lula até o último dia do seu governo, mas que não é possível um dia a mais, "depois das eleições", ter como presidente quem "ou é conivente com a corrupção, ou é um completo idiota". Suplicy ficou na defesa de Lula: "Suas palavras ofensivas ao presidente não vão trazer serenidade", disse. "O presidente já pediu apuração em profundidade na CPI". Virgílio sacou: "Quanto custou a sua eleição?". Suplicy disse ter gasto R$ 360 mil. "Não acredito", retrucou Virgílio. "Pois eu confirmo", rebateu Suplicy. "Então, procure economizar e gaste R$ 180 mil na próxima", ironizou Virgílio. "O senhor foi falso", disse. Suplicy negou, mas resignou-se. Em seu discurso, Arthur Virgílio disse que o governo "se acanalhou" e que parlamentares governistas silenciaram no depoimento de Roberto Jefferson (PTB-SP) à CPI dos Correios em que ele deixou parlamentares na defensiva. "Todos, sem exceção, se curvaram, se abaixaram, diminuindo-se diante de um homem acusado e que virou acusador porque esse governo sabe o quanto tem de culpa no cartório". (Colaboraram Taciana Collet e Juliano Basile)