Título: Severino adia pronunciamento à Nação
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 15/07/2005, Política, p. A8

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou ontem na reunião da Mesa Diretora da casa que continuará até o fim com os contratos de publicidade com a SMP&B, empresa do publicitário Marcos Valério - acusado de ser um operador do mensalão. Ele confirmou que seguirá com a empresa até o fim do ano, mas já solicitou estudos para a abertura de uma nova licitação. Severino ainda se reuniu ontem com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e decidiu adiar o pronunciamento que faria à Nação, hoje, para defender a Câmara das denúncias de corrupção. Depois desta reunião, não afastou a possibilidade de sua legenda, o PP, ganhar um ministério. Severino afirmou que está economizando o gasto com publicidade. "A gestão passada (de João Paulo Cunha, PT-SP) gastou R$ 9 milhões e eu em meio ano só gastei R$ 52 mil, em uma prova evidente que estou valorizando a prata da Casa", disse. Ele indicou que poderia haver desperdício de recursos. "Nós não sentimos necessidade nenhuma de gastar uma verba que não era nenhuma exigência para o bom funcionamento do Legislativo", afirmou. O presidente da Câmara confirmou que conversou com Palocci sobre a possibilidade de votar, ainda em agosto, a reforma tributária. "Vamos ver isso na próxima semana, eu vou levar todo o dossiê ao ministro, vamos nos encontrar de novo para discutir reforma tributária", disse. Severino voltou a ser fortemente pressionado pelos prefeitos para aprovar rapidamente o ponto da reforma que aumenta em 1% o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), o que deve gerar R$ 1,2 bilhão extra para os municípios. O presidente da Câmara também confirmou que desistiu do pronunciamento que faria hoje à Nação, em rede de rádio e TV. A proposta inicial de Severino era tentar melhorar a imagem do Legislativo, dizendo que o Congresso está apurando as denúncias e que o Executivo também estaria envolvido nas irregularidades. "Eu vou dizer o que nós estamos fazendo, o que nós fizemos durante esse período, um balanço, mostrar o quanto economizamos", disse. Oficialmente, a Mesa Diretora entendeu que seria ruim politicamente fazer o pronunciamento agora, justo quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está na França. Severino voltou a defender o parlamento, lembrando que o executivo também está envolvido nas denúncias de corrupção e do mensalão. "Não pode existir uma ação só do Legislativo, quando sabemos que quando existe um corrupto, tem um corruptor, mas ainda é cedo para tirarmos conclusões", disse. Um encontro com o presidente Lula, na segunda-feira, foi confirmado por Severino e ele disse que a reforma ministerial deve ser o assunto. "O presidente é político, o presidente da Câmara é político, você acha que um encontro entre o presidente da Câmara e da República não vai ter alguma conversa sobre política? Tem que ter, mas pode ser ministérios, reforma tributária, vários assuntos que dizem respeito à sociedade", disse. Ele reforçou a posição divergente de seu partido, que oficialmente não quer uma vaga no ministério por acreditar, segundo um parlamentar da sigla, "que aceitar o ministério agora é a mesma coisa de pegar carona em um caminhão sem freio na banguela". "É evidente (que ele quer um ministério). O PP é um partido político e o partido político que não quer ter participação (no governo) não é um partido. Não é uma ansiedade, é um estado de espírito", disse Severino. O presidente da Câmara ajudou também a jogar uma pá de cal na tentativa do governo negociar e votar ainda na próxima semana a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). "Teremos recesso branco, vamos apenas discutir, não votar", disse. O governo ainda pretende avançar na análise da LDO e vai tentar um acordo com os ruralistas na próxima quarta-feira, porém as declarações de Severino e a remarcação da reunião da Comissão Mista do Orçamento para 2 de agosto tornaram o objetivo do governo mais difícil de ser atingido.