Título: O Irã agradece
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2010, Mundo, p. 18

Solução negociada para o impasse nuclear com o regime islâmico ganha apoio dos governantes do Fórum Ibas e do Bric

Mesmo sem estar presente, a República Islâmica do Irã colecionou apoios preciosos nas duas reuniões de cúpula que trouxeram ontem a Brasília líderes de quatro outras potências que se esforçam para fazer contrapeso aos Estados Unidos no cenário global. Os chefes de Estado e governo do Fórum Ibas, formado por Índia, Brasil e África do Sul, defenderam a persistência nas negociações com o Irã sobre seu programa nuclear, em vez de uma nova rodada de sanções, como propõe Washington. A posição, incluída na declaração final da 4ª Cúpula do Ibas, foi ratificada também no encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o colega chinês, Hu Jintao, que chegou mais tarde ao Itamaraty para participar da 2ª Cúpula do Bric, bloco composto por Brasil, Índia, Rússia e China.

¿Nosso governo considera que as sanções não são o melhor caminho, porque tendem a enrijecer a posição do Irã¿, disse ao Correio uma fonte indiana. ¿Também não queremos que os iranianos tenham uma arma nuclear, é claro, mas consideramos que a negociação pode ter mais efeito mais positivo.¿ A Índia não é signatária do Tratado de Não Proliferação (TNP), uma vez que já era uma potência nuclear quando ele foi firmado, em 1968. ¿O ideal seria que não tivéssemos armas nucleares, mas consideramos que é um mal necessário, uma vez que outros países não abrem mão desses artefatos e alguns deles estão em nossa região¿, argumentou o funcionário indiano.

Lula e o presidente sul-africano, Jacob Zuma, também sustentaram que as sanções sejam o último recurso no impasse nuclear com o Irã. ¿A África do Sul também acha que é preciso esgotar todas as chances de diálogo¿, afirmou aos jornalistas o embaixador Piragibe Tarragô, subsecretário-geral para Assuntos Políticos do Itamaraty. O diplomata, porém, ressaltou que o governo iraniano deve ser ¿bastante transparente¿ e demonstrar que o processo de enriquecimento de urânio tem fins pacíficos.

A longa agenda, ainda mais apertada pela coincidência com a reunião do Bric, não desanimou os líderes dos três países. ¿Desafiamos a geografia e a inércia, e hoje posso dizer que nós vencemos¿, afirmou Lula na conclusão da sessão plenária do Ibas, destacando que o comércio entre os membros do trio quadruplicou nos últimos sete anos, atingindo em 2009 a soma de U$ 12 bilhões. O grupo anunciou ainda o desenvolvimento conjunto de dois satélites espaciais e um acordo para cooperação na área de energia solar.

¿Os satélites vão beneficiar os países do Ibas e outras nações amigas em matéria de agricultura, navegação, transporte aéreo e telecomunicações. Eles vão reforçar o trabalho dos centros espaciais nos nossos três países¿, disse Lula após a reunião com Zuma e o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh.

O presidente brasileiro também ressaltou a importância dos países em desenvolvimento para a superação da crise econômica global e ressaltou que o Ibas é ¿a nossa resposta a uma ordem internacional desigual e injusta, incapaz de resolver antigos problemas, como a pobreza extrema e a fome de milhões¿. Lula voltou a defender uma reforma nas Nações Unidas e a participação de ¿novos atores¿ em regiões de conflito, como o Oriente Médio.

EX-PRESIDENTE É PROIBIDO DE VIAJAR O ex-presidente iraniano Mohammad Khatami, que tentou promover reformas no regime islâmico e hoje é um crítico cada vez mais ácido do conservador radical Mahmud Abbas, que o sucedeu no cargo, foi impedido pelas autoridades de deixar o país, denunciou ontem a bancada reformista no Parlamento. Khatami pretendia ir ao Japão para uma conferência sobre desarmamento. No início do mês, um site reformista havia divulgado notícia semelhante, mas na ocasião auxiliares do ex-presidente desmentiram a versão. Khatami condenou a repressão violenta e a prisão em massa de opositores após a reeleição de Ahmadinejad, em junho de 2009, declarara ilegítima pelos reformistas, sob a alegação de fraude generalizada.

Colaborou Flávia Foreque