Título: CPI quer lista de mais de 100 sacadores em poder do STF
Autor: Thiago Vitale Jayme, Daniel Rittner e Juliano Basi
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2005, Política, p. A6

A semana na CPI dos Correios terá uma guinada nas investigações sobre as denúncias do pagamento de mensalão. Comprovados os saques e as remessas de dinheiro para alguns deputados, os parlamentares vão concentrar esforços em duas frentes importantes: tentar identificar a lista completa de mais de cem sacadores das contas das empresas de Marcos Valério de Souza e aprofundar as análises das provas para descobrir de onde o dono das agências SMB&B e DNA tira tanto dinheiro. Os parlamentares tentarão descobrir se houve pagamento de despesas de integrantes do governo por parte das empresas de Valério. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) espera que o Supremo Tribunal Federal (STF) envie para a CPI as cópias de todos os fax apreendidos pela Polícia Federal há 10 dias na sede do Banco Rural em Minas. O material foi entregue ao juiz federal Jorge Macedo Costa. O magistrado viu os documentos e, ao constatar o nome de parlamentares, definiu que o assunto deveria tramitar no STF. Ao receber os documentos, o presidente do STF, Nelson Jobim, pediu um parecer ao procurador-geral da República, Antonio Fernando, que determinou à PF que identifique todos os sacadores. Diversos fax não têm o nome dos sacadores, mas apenas a rubrica e o número da identidade. A polícia terá 15 dias para terminar de identificá-los. O único depoimento rumoroso da semana deverá ser o da mulher de Marcos Valério, Renilda Maria Santiago. Ela é sócia majoritária de algumas das companhias do empresário e falará aos parlamentares na terça-feira. Na quinta-feira, o STF bloqueou a conta de Renilda no BankBoston depois de suspeitar da tentativa dela de sacar R$ 1,89 milhão. A estratégia dos advogados do empresário Marcos Valério de Souza e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares deu certo, e o inquérito sobre o pagamento de mensalão a deputados federais tramitará no Supremo Tribunal Federal (STF). Com a mudança na tramitação do caso da primeira instância da Justiça Federal para a Corte Suprema, as investigações terão um ritmo mais lento daquele imposto pela Polícia Federal até agora. Com a desaceleração do processo judicial, os advogados de Valério e Delúbio centrarão os esforços nas defesas de seus clientes no parlamento. Depois do encerramento dos trabalhos das comissões de inquérito e o conseqüente arrefecimento da crise política, os defensores do empresário e do ex-tesoureiro terão espaço livre para defenderem seus clientes na Justiça sem que os ministros da corte sofram pressões da sociedade. Se o caso continuasse nas mãos da Polícia Federal e do juiz da primeira instância da Justiça Federal, decisões polêmicas poderiam surgir rapidamente. A soma da pressão política do Congresso com o desenrolar jurídico na Justiça seria prejudicial a Marcos Valério e Delúbio Soares, avaliam seus defensores. A estratégia de Arnaldo Malheiros, advogado de Delúbio, e Marcelo Leonardo, defensor de Valério, foi levar seus clientes ao procurador-geral da República, Antonio Fernando. Na conversa no Ministério Público Federal, apresentaram uma lista dos recebedores dos saques das contas de Valério. Em meio aos nomes, figuravam os deputados federais Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Carlos Rodrigues (PL-RJ). Foi a senha para o juiz federal Jorge Macedo Costa delegar a transferência do inquérito para o Supremo por conta da presença de pessoas com foro especial. Ao receber a determinação do magistrado, o Supremo enviou o inquérito imediatamente para Antonio Fernando se pronunciar. O procurador-geral opinou pela permanência do caso no STF. Ele estabeleceu prazo de 15 dias para a PF fazer diligências e completar o inquérito. Mas os agentes não vão atuar livremente, como faziam anteriormente. Terão de cumprir apenas as determinações de Antonio Fernando.