Título: Documento da UE não prevê avanços com o Cone Sul
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 04/08/2005, Brasil, p. A6

A União Européia (UE) não prevê "nenhum movimento importante" nas negociações do acordo de livre comércio com o Mercosul até o fim do ano. A avaliação européia está num documento sobre as questões comerciais prioritárias dos 25 países-membros neste segundo semestre e contrasta com o otimismo do Itamaraty, para quem um acordo estaria próximo. No texto de 26 páginas, a UE dedica um parágrafo de sete linhas para a negociação com o Mercosul. Diz que as negociações vão continuar no segundo semestre, embora sem avanços significativos. Reitera os objetivos de alcançar um acordo "amplo, ambicioso e equilibrado", afirma que nenhum setor deve ser excluído, mas que "levará em conta as sensibilidades de certos produtos". Normalmente, na visão européia, isso significa sobretudo menos abertura aos produtos agrícolas do Mercosul. A UE diz que um acordo final com o Mercosul incluirá tratamento especial e diferenciado "onde for apropriado", através de prazos de transição maiores para cortar tarifas, por exemplo, refletindo o menor grau de desenvolvimento do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Fontes em Bruxelas acham que a reunião UE-Mercosul, programada para 2 de setembro, em Bruxelas, não produzirá mais do que uma mensagem política de continuação das negociações. Um acordo logo, como o Itamaraty anunciou, só tem perspectiva se for resolvida a questão agrícola "com alto grau de ambição ou ambição nenhuma", diz um negociador. Além disso, somando as dificuldades que já existem na negociação, a Argentina quer tirar da parte industrial produtos como têxteis e automóveis. De maneira geral, a UE diz que sua grande prioridade em 2005 é fazer progressos na Rodada de Doha na Organização Mundial de Comércio (OMC), mas que "muita atenção" também será dada às políticas comerciais bilaterais e regionais. Está na agenda européia a implementação de um espaço econômico com a Rússia, mais iniciativas de integração com países do Mediterrâneo e a conclusão de acordo de livre comércio com países do Golfo Pérsico. Bruxelas planeja adotar "nova abordagem" para reforçar as relações comerciais e de investimentos com os EUA. Com a América Central e a Comunidade Andina, o foco será avaliar se existe grau de integração suficiente para sustentar um futuro acordo com a UE. Bruxelas quer evitar o que está acontecendo na negociação com o Mercosul, onde reclama que até hoje não está certo se negocia realmente com um bloco, diante da integração deficiente entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Com o México e o Chile, quer ampliar os acordos de livre comércio. Com o México, o objetivo é negociar toda a parte de serviços, incluindo a eliminação de todas as discriminações na área de serviços financeiros que atingem os europeus. Com o Chile, a parte agrícola também voltará às discussões. As relações comerciais com China e Índia também estarão "crescendo" na agenda da UE. Com a África do Sul, o objetivo é concluir negociações sobre produtos automotivos. Bruxelas planeja "encorajar" o debate internacional sobre o vinculo entre comércio e corrupção, diante do crescente interesse público na questão.