Título: Economia recupera fôlego em agosto
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura IBGE deve anunciar queda na indústria em julho, mas desaceleração é cíclica, afirmam analistas

Depois de um desempenho mais fraco em julho, a economia brasileira retomou o fôlego em agosto. Indicadores como a produção de veículos, a importação de bens de capital e matérias-primas e a arrecadação de impostos em São Paulo sugerem uma expansão mais forte do nível de atividade no mês passado. Com isso, ganha força a estimativa de um crescimento do PIB próximo a 3,5% em 2005, previsão amparada também na expectativa de queda dos juros a partir deste mês e de continuidade da recuperação da renda. O IBGE divulga hoje a produção industrial de julho, e a expectativa é de queda entre 0,4% e 1% em relação a junho, na série livre de influências sazonais. A produção de veículos, a expedição de papelão ondulado e o fluxo de veículos pesados apontam um recuo na atividade, depois de um segundo trimestre de crescimento robusto. Os indicadores industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgados na terça-feira, confirmam a desaceleração em julho. As vendas reais da indústria de transformação, por exemplo, caíram 0,33% em relação a junho. Alguns números sobre a atividade em agosto, contudo, indicam que o desempenho de julho foi mais uma desaceleração cíclica do que uma reversão da trajetória de expansão da economia, como diz o economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria Integrada, Uma das principais boas notícias de agosto foi o desempenho da indústria automotiva. No mês passado, a produção de veículos cresceu 8,9% em relação ao mesmo mês de 2004. Se a comparação for feita com julho, excluindo fatores sazonais, houve aumento de 0,7%, de acordo com a Tendências. O setor tem se beneficiado da ampla oferta de crédito, com financiamentos de prazos longos. Boa parte da produção também se destina à exportação. Outra boa notícia foi o comportamento das importações em agosto. A Rosenberg & Associados nota que as compras externas de bens de capital aumentaram 6,9% em relação a julho, na comparação das médias diárias, indicando que o investimento em máquinas e equipamentos segue em recuperação. Além disso, houve crescimento de 7,1% nas importações de matérias-primas e bens intermediários, sinal de que a indústria está apostando no aumento da produção. A reação das importações, para a Rosenberg, parece uma resposta ao câmbio valorizado, "refletindo também a preparação para as vendas de Natal". Empresas como a indústria São Roberto também tiveram um agosto melhor que julho. O presidente da São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, diz que a expedição de papelão ondulado cresceu 7% ante o mês anterior. Para ele, a expectativa de corte dos juros, a redução dos estoques e o aumento da renda real de algumas categorias importantes de trabalhadores podem ajudar a explicar o resultado. "É uma surpresa agradável, principalmente devido ao nível dos juros no país", afirma Jeha. Ele diz que o resultado do mês passado ficou próximo ao de agosto de 2004 - quando a São Roberto teve o melhor desempenho do ano. Em julho, a expedição de papelão ondulado caiu 1% ante junho. A Companhia Brasileira de Latas (CBL) também teve um agosto promissor, com o volume de vendas crescendo 3% em relação ao mesmo mês de 2004. Em julho, o resultado igualara o de julho do ano passado. O diretor-presidente da CBL, José Augusto de Carvalho Jr, acredita que a desova de estoques em junho e julho ajuda a entender a recuperação das vendas em agosto. No primeiro semestre, houve queda de 5% no volume de vendas. Carvalho coloca suas fichas num desempenho mais forte entre setembro e dezembro, devido à expectativa de queda dos juros e de recuperação da renda. Esses dois fatores também reforçam a aposta do presidente da Associação Brasileira de Embalagens (Abre), Fábio Mestriner, num segundo semestre melhor do que o primeiro. De janeiro a junho, o setor cresceu 1,8% e eles espera expansão de 4,8% na segunda metade do ano. Mestriner lembra que 60% das vendas do setor vão para os segmentos de alimentos e bebidas, que dependem muito do comportamento da renda. No comércio, agosto também foi razoavelmente positivo, avalia o economista Emílio Alfieri, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). As consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) cresceram 5,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. Se outros indicadores confirmarem o bom resultado da economia em agosto, Maia vai revisar para cima sua projeção de crescimento para 2005, atualmente em 3,2%. Quem acaba de mudar sua estimativa foi o Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea), elevando-a de 2,8% para 3,5%. A instituição projeta uma queda para a produção da indústria em julho, de 0,5% a 1% ante junho, na série livre de influência sazonais. Segundo Fábio Giambiagi, economista do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC), o mês foi ruim por influência da crise política, mas esse desempenho fraco deve ser pontual. Para o Ipea, a indústria deve crescer no terceiro trimestre a uma taxa de 4,7%, um pouco menor que a do segundo (6,1%), e recuperar fôlego no quarto (5,8%). "Vamos ter um bom Natal", afirma Giambiagi. Esse cenário pressupõe queda dos juros a partir deste mês, inflação baixa e recuperação do poder de compra da população pelo aumento do emprego e da renda. (Colaborou Vera Saavedra Durão)