Título: Consórcio não tem cadeado, diz Lula
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 23/04/2010, Economia, p. 14

ENERGIA

Palácio do Planalto desdenha das empresas que ameaçam deixar obra de Belo Monte

A ameaça de saída da construtora Queiroz Galvão do consórcio Norte Energia, vencedor do leilão(1) para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), não intimidou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele manteve o discurso de que o governo erguerá a usina de qualquer jeito, com ou sem a iniciativa privada. ¿Nós, enquanto Estado brasileiro, empresa pública, faremos sozinhos se for necessário¿, ressaltou, após almoçar com o presidente do Líbano, Michel Sleiman, ontem, no Palácio do Itamaraty. ¿No leilão, entra quem quer e sai quem quiser, depois (do fim da licitação). Não tem nenhum cadeado na porta. Não tem problema.¿ A atitude ¿inabalável¿ do governo em relação ao resultado do leilão, que foi realizado sob protestos, tem uma explicação. Para o Planalto, os rumores de saída das construtoras dos consórcios são espalhados por elas mesmas como forma de pressionar por um aumento de suas participações no negócio. Segundo fontes próximas do presidente Lula, ele não vai ceder à pressão. A atitude em relação à Odebrecht e à Camargo Corrêa, que desistiram de financiar a hidrelétrica, mas mostraram interesse em participar da obra, é positiva. Lula afirmou que as duas empresas ¿podem ajudar¿. ¿É só querer¿, disse. A Queiroz Galvão não comenta o assunto oficialmente, mas fontes ligadas ao negócio afirmam que a construtora teria voltado atrás na decisão de abandonar o consórcio. Na quarta-feira, o grupo J. Malucelli negou, por meio de nota oficial, os boatos de que não quer participar do empreendimento. As duas construtoras integram o grupo liderado pela Chesf, subsidiária da Eletrobras. Cotada como possível candidata a entrar no consórcio vencedor como autoprodutora de energia, a Gerdau informou que a decisão ¿será tomada mediante o acesso a informações que ainda não foram disponibilizadas¿. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que também é cogitada como nova integrante do grupo, não se pronunciou sobre o assunto. Na quarta-feira da semana passada, o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, confirmou o interesse da companhia por Belo Monte, mas ressaltou que o edital ainda estava em análise. As dúvidas em relação à composição do consórcio que, de fato, construirá a hidrelétrica podem abrir caminho para manobras que estimulem a desistência do grupo vencedor, o que encareceria o empreendimento, alertam técnicos do setor. Se isso ocorrer, seria uma derrota para o governo, pois as companhias que perderam o leilão seriam convocadas automaticamente e o custo da obra aumentaria de R$ 77,97 para R$ 82,90. A diferença viria na conta de luz de milhões de brasileiros. Um atento observador compara a formação do consórcio Norte Energia a uma ¿barriga de aluguel¿. ¿Montaram um time que não deu certo. Agora, estão tentando resolver, estão tendo que remontar o consórcio¿, afirma.