Título: Reflexo na balança do país é limitado
Autor: Marli Lima e Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2005, Agronegócios, p. B13

Apesar do prejuízo causado a pecuaristas e frigoríficos, o impacto na balança comercial brasileira da suspensão das exportações de carne bovina para alguns países, por conta da aftosa no Mato Grosso do Sul, é limitado. Economistas estimam o prejuízo entre US$ 200 milhões e US$ 500 milhões este ano. O cenário mais pessimista representaria apenas 0,4% dos US$ 117 bilhões de exportações totais do país em 2005. Se o embargo à carne bovina persistir em 2006, a perda poderá alcançar de US$ 900 milhões a US$ 2 bilhões. "Para o setor, é um desastre. Do ponto de vista macroeconômico, não é tão significativo", diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MSConsult. Ele estima perdas de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões para as exportações por conta da aftosa. A consultoria manteve as projeções para a balança de 2005: US$ 117 bilhões em exportações, US$ 75 bilhões em importações e saldo de US$ 42 bilhões. Para Silveira, as exportações de petróleo, automóveis, açúcar e carne de frango, entre outros, compensarão as perdas na carne bovina. "A pauta brasileira de exportação é diversificada. Nenhum produto isoladamente consegue provocar uma catástrofe", pondera Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan. Até a soja, carro-chefe da balança do país, representou apenas 10,4% do total dos embarques em 2004, ou US$ 10 bilhões. O complexo carnes ficou em US$ 6,1 bilhões em 2004. No período de 12 meses até setembro deste ano, as exportações do complexo carnes (boi, frango e suínos) atingiram US$ 7,8 bilhões. Os embarques de carne bovina "in natura" responderam por 32,1%, ante 39,7% da carne de frango. Nas contas do departamento econômico do Bradesco, os países que embargaram o produto brasileiro por conta da aftosa representam 64% do embarque de carne bovina "in natura". Para os economistas do banco, a boa notícia é que a Rússia, principal cliente do país com mais de 20% das compras, ter embargado só o Mato Grosso do Sul. A má foi a barreira da União Européia ter se estendido ao Paraná e a São Paulo, onde estão concentrados os frigoríficos. O Bradesco estima as perdas de exportações provocadas pela aftosa em US$ 220 milhões. Os economistas do banco avaliam que o montante pode ser compensado pelas exportações de petróleo, que estão surpreendendo. Neste caso, a média diária das exportações saltou de US$ 24 milhões no primeiro semestre, para US$ 55 milhões desde julho. O Bradesco prevê o superávit da balança em US$ 41,7 bilhões esse ano. Para a MB Associados, a aftosa deixará perda para a exportação de US$ 200 milhões em 2005, caso o embargo fique restrito ao Mato Grosso do Sul, e de US$ 500 milhões se a suspensão se estender a São Paulo. Segundo o economista Sérgio Vale, os prejuízos podem chegar a US$ 2 bilhões, "na pior das hipóteses", em 2006. A consultoria projeta saldo total de US$ 42 bilhões em 2005 e de US$ 35 bilhões em 2006.