Título: Brasileiros devem R$ 664 bi a bancos
Autor: Cristino,Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 30/04/2010, Economia, p. 13

Com aumento do crédito, as famílias já utilizam 22% da renda para pagar prestações. Dívida deverá representar 25% do PIB no ano

Com o crédito em expansão ¿ só para a pessoa física o crescimento foi de 4,4% no trimestre ¿, as famílias já comprometem 22% do seu rendimento com o pagamento de prestações. De acordo o Banco Central, o volume de dinheiro à disposição dos consumidores atingiu R$ 664,07 bilhões em março. A despeito do vulto, a previsão do BC é de que a situação ainda está longe de ter atingido o limite. A expectativa é de que o volume de crédito aumente 20% no ano, atingindo, ao fim de 2010, o percentual de 49% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Nesse cenário, a dívida dos brasileiros deverá corresponder a quase 25% das riquezas produzidas no país em um ano.

O professor e economista José Márcio Camargo, da PUC/RJ, não vê nenhum problema no atual nível de endividamento das famílias brasileiras. ¿No passado, não tínhamos crédito¿, lembrou. Segundo ele, o percentual de 22% é razoável e está dentro dos padrões internacionais. ¿O nível de emprego está aumentando, o salário real também e é isso que tem levado a uma demanda maior por crédito¿, destacou. Segundo os dados do BC, o índice de inadimplência para as pessoas físicas, de 7%, é o menor dos últimos dois anos. Já o prazo médio de financiamento, de 526 dias, é o mais elevado da série histórica, que teve início em julho de 1994. Prazos mais longos acomodam melhor a dívida ao orçamento doméstico, mesmo que isso signifique o prolongamento dos débitos.

Na visão de Camargo, o volume de dívidas em atraso é um bom indicativo da saúde do crédito. ¿Se o nível de inadimplência é baixo é porque o sistema de avaliação de risco dos bancos está funcionando.¿ Analistas da Link Investimentos avaliam que, com a melhora das condições econômicas, a inadimplência deve permanecer em queda. Diante do cenário atual, eles acreditam que as operações de crédito devem avançar entre 20% e 22%, com a relação dívida/PIB chegando a 50% no fim do ano. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o perfil do consumidor está adequado. ¿O crédito vem crescendo de maneira sustentável e nas modalidades que cobram os juros mais baixos do mercado¿, disse. Entres, listou Altamir, estão os financiamentos de veículos e da casa própria, além do crédito consignado.

Queda O percentual de 22% de comprometimento da renda com a prestação neste início do ano já foi maior no passado. Segundo o BC, antes da crise econômica internacional, a parcela chegou a 24,3% e depois, durante todo o ano de 2009, só fez cair. Nos 12 meses terminados em janeiro passado, a queda foi de 1,7 ponto percentual. Para o BC, o comprometimento da renda evolui de forma equilibrada até o momento, graças à conjunção favorável de taxas declinantes (antes do aumento dos juros básicos da economia) e prazos em expansão. A instituição classificou como benigno o cenário para o crescimento do crédito sustentado às pessoas físicas, dado o comportamento positivo dos indicadores de emprego e renda.

Para calcular a relação renda/dívida das famílias, o banco usa o conceito de massa salarial ampliada, que não se restringe aos dados da renda. Entra no cálculo, além do rendimento assalariado, aposentadorias e pensões e benefícios sociais, como a Bolsa Família.

O nível de emprego está aumentando, o salário real também e é isso que tem levado a uma demanda maior por crédito¿

José Márcio Camargo, economista e professor da PUC/RJ

Corda no pescoço

Endividamento das famílias não para de crescer

Distribuição dos débittos - (Em R$ bilhões)

Empréstimo pessoal - R$ 170,068 Crédito consignado - R$ 114,824 Financiamento de veículos - R$ 101,944 Casa própria - R$ 100,757 Leasing - R$ 61,166 Cartão de c rédito - R$ 26,975 Cheque especial - R$ 17,595

OBS: As operações de crédito consignado estão incluídas nas de crédito pessoal.

Fonte: Banco Central Juros já ensaiam escalada

Os consumidores que se cuidem. Vem aí uma nova escalada nos juros. A taxa para pessoas físicas, que vinha recuando nos últimos dois meses até bater em 41% ao ano no mês passado ¿ menor nível de toda a série histórica do Banco Central, iniciada em 1994 ¿, já se movimentou em abril. Segundo dados preliminares, válidos para os primeiros 10 dias úteis do mês, o índice para as pessoas físicas atingiu 42,2% ao ano, alta de 1,2 ponto percentual em relação a taxa de março. O juro médio total também apresentou alta de 0,8 ponto percentual atingindo, no período, 35%.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, ainda é cedo para dizer se os dados parciais de abril vão se confirmar no final do mês e se eles representam realmente uma mudança na tendência das taxas. Ele admitiu, no entanto, que o aumento verificado reflete o movimento do mercado de juros futuros, segmento que acompanha as previsões para o comportamento da taxa básica de juros (Selic). ¿A elevação da taxa de juros em abril reflete movimentos de elevação da curva de juros. Nesse período, também aumentou o custo de captação¿, observou.

Embutido Nas últimas semanas, diante da aceleração da inflação e da expectativa de que o BC iniciaria a subida da Selic ¿ fato confirmado na quarta-feira ¿, o mercado futuro passou a embutir a alta. Altamir disse que não tem como precisar quanto da alta da taxa, que pulou de 8,75% ao ano para 9,5%, já foi repassada para o consumidor. Quem pegou crédito em março, no entanto, está pagando menos pelo dinheiro. A taxa de juros para o financiamento de veículos caiu 0,6 ponto percentual, chegando a 23,5% no mês.

Consignado Esse nível de juros é, inclusive, mais baixo que o do crédito consignado, cuja taxa, em março, baixou para 27% ao ano ¿ menor patamar já registrado para esse tipo de crédito, com reduzido risco de inadimplência, uma vez que o desconto do valor da prestação é feito em folha. No crédito pessoal, a taxa baixou de 43,8% ao ano em fevereiro para 42,7% ao ano em março. A exceção ficou por conta do cheque especial, que apresentou, de um mês para o outro, elevação de 0,8 ponto percentual na taxa. Em fevereiro, quem entrou no cheque especial estava pagando juros de 159,5% ao ano. Em março, a taxa passou para 160,3% ao ano. (VC)

O número 42,2% ao ano Taxa cobrada das pessoas físicas nos 10 primeiros dias úteis de abril, 1,2 ponto percentual maior que em março