Título: PFL e PSDB amenizam críticas e negam impeachment
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Política, p. A7

Por avaliar que pode ser letal a denúncia de que o Partido dos Trabalhadores recebeu dinheiro de Cuba para a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 2002, a oposição decidiu agir com cautela e aprofundar as investigações, antes de entrar com uma representação pedindo a cassação do registro do PT. Enquanto isso, seguirá com outras manobras de desgaste da imagem de Lula, como outra representação ao Ministério Público Federal, nos próximos dias, para que seja investigada a denúncia de que o PL pagou com recursos de caixa 2 contas da campanha eleitoral do presidente da República. O tom da oposição foi balizado numa conversa, em São Paulo, os presidentes do PSDB, José Serra, e do PFL, Jorge Bornhausen. Os dois afastaram a possibilidade de pedir o impeachment de Lula, por enquanto. "Há elementos para investigação. Não diria que há elementos para um impeachment", disse. "Em qualquer caso isso seria investigado, envolvesse o partido que envolvesse. Uma vez comprovado, vamos ver os passos que se darão. O caminho é o Congresso e o Ministério Público", disse o presidente do PSDB e prefeito de São Paulo. Na mesma sintonia, o senador Jorge Bornhausen (SC) seguiu o discurso de "oposição responsável": "Quero deixar essa questão de forma muito clara. É uma questão legal. Nenhum partido político pode assumir essa responsabilidade. É uma questão da sociedade civil." O líder do PFL no Senado, José Agripino Maia, negou que a oposição tenha recuado. "Estamos adotando a cautela devida num fato letal que, se for comprovado, levará à cassação do registro do PT. O mandato de Lula estará comprometido". Ontem mesmo, o senador José Jorge (PFL-PE), líder da minoria, anunciou que estava apresentando um pedido de convocação, pela CPI dos Bingos, de Rogério Buratti e de Vladimir Poleto, dois ex-assessores de Antonio Palocci (Fazenda) que denunciaram a remessa de dólares supostamente feita pelo governo ou pelo Partido Comunista de Cuba. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM) apresentou um requerimento para que o diplomata Sergio Cervantes, que teria entregue os dólares, seja convidado a falar na CPI. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também declarou que este não é o momento adequado para discutir um eventual impeachment. "Tem que investigar. Não é possível ter uma denúncia dessa gravidade e ignorá-la. Até para inocentar quem está sendo responsabilizado", disse o tucano, que almoçou ontem com Bornhausen. Ponderação também foi a tônica dos oposicionistas sobre a possibilidade de entrar com uma representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral contra o PT, pedindo a cassação do registro do partido. "Nós não falamos sobre isso porque isso é uma conseqüência daquilo que se pudesse descobrir em uma investigação", pontuou Serra. "Não partiremos para nenhuma ação que não tenha realmente consistência jurídica. O presidente do PFL não defende a instalação de uma CPI para investigar o caixa 2 de campanhas, para não atrapalhar os trabalhos das outras comissões. "Tem que verificar melhor a oportunidade porque os trabalhos das outras CPIs estão em andamento e a criação de uma nova agora talvez não tenha o resultado pretendido. " Para apurar as denúncias de suposto recebimento de recursos ilegais de Cuba, Bornhausen ressalta que a CPI dos Bingos poderá fazer a investigação. "A denúncia é gravíssima e as CPIs poderão tomar medidas de natureza judicial. "