Título: Governo evita confronto com a oposição
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2005, Política, p. A7

Crise Decisão é deixar respostas para o PT e buscar conciliação para fazer avançar agenda do Congresso

O governo continuará a buscar um tom conciliatório nas relações com a oposição, mesmo após as denúncias veiculadas no final de semana, de financiamento de Cuba à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. A avaliação do Planalto é de que a reportagem é inconsistente. Mas o comando político governista também não vai se esforçar para conter as respostas e ataques que partirem dos partidos da base aliada, especialmente do PT. "O PT vem sendo agredido e é natural que reaja. Não se deve confundir prudência com subserviência ou covardia", resumiu o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, ao Valor, após a reunião da coordenação política do governo, na manhã de ontem. Na reunião, os principais auxiliares do presidente Lula concluíram que cabe ao Executivo cuidar de uma agenda de votações no Congresso e aos aliados, travar a disputa política com o PSDB e PFL. O ministro afirma que não há como pedir paciência dos petistas, que vêm sofrendo pesadas críticas há cinco meses. "Somos acusados de montar o maior esquema de corrupção da história recente do país, de termos formado uma quadrilha", lembra. "O PT está muito longe disso, já assumiu sua responsabilidade, temos seis parlamentares à beira da cassação", enumera. "Quer mais mea-culpa do que isso?" O ministro acha improdutivo que o governo entre na disputa política. Coordenador político da confiança do presidente, ele assegurou que Lula não vai alterar sua agenda para participar de discussões com a oposição. Na reunião de ontem, foram discutidas as prioridades na agenda parlamentar dos próximos dias, com ênfase à votação da MP 258, que cria a Super-Receita. "O presidente não tem interesse em estabelecer um clima de guerra com o Congresso. O nosso interesse é que o país ande", insiste Jacques Wagner. Coerente com as afirmações de Wagner, Lula, no programa de rádio "Café com o Presidente", ressaltou o papel do Congresso ao aprovar a medida provisória 255, a chamada MP do Bem. "O Congresso muitas vezes diverge mas, na hora de votar, sabe que tem que dar uma contribuição para a sociedade", defendeu. "Às vezes coloca um pouco mais, às vezes um pouco menos, mas o resultado de tudo isso é sempre positivo para o Brasil." Mas o ministro da coordenação política é explícito ao demonstrar a irritação com a denúncia de que US$ 3 milhões vindos de Cuba tenham entrado ilegalmente na campanha de Lula em 2002. Lembra que o Congresso já investigou o suposto financiamento do PT pelas Farc e não descobriu nada. Recorda a tentativa de vinculação do seqüestro de Abílio DIniz, em 1989, com a campanha de Lula à presidência. Também questiona a pretensão da CPI dos Bingos de investigar o episódio. "Suponhamos que a matéria seja verdadeira, o que não acredito que seja: que nexo causal existe entre Bingos e Caixa 2?", indaga. "É um assunto da justiça eleitoral; neste ponto está o transbordamento (da competência da CPI)", declarou. Wagner questionou as declarações dadas por tucanos como o senador Arthur Virgílio (AM), que teria apontado como objetivo da oposição impedir que Lula ganhe as eleições de 2006 pelo voto. "Querem que ganhemos como, pelo golpe?", provocou. O petista lembra que parte da oposição aposta na prorrogação da crise para estender o desgaste do governo até as eleições. Admite, no entanto, que este desgaste já está consolidado, uma vez que "o partido da ética viu alguns de seus quadros descobertos praticando irregularidades". Ele classifica de exagero, porém, a volta das ameaças de impeachment. "Incomoda o processo de recuperação do presidente, e a aprovação de uma MP que incentivará investimentos na ordem de R$ 10 bilhões", diz. Jaques Wagner lembra que a essência da democracia é o contraditório e o contraponto e garante que não pretende pedir "bons modos" à oposição. Mas diz acreditar que a população percebe quando a discussão política sai do controle, "se perde o bonde" e atrapalha-se a votação de propostas importantes para o país. "Fomos chamados de ineptos, de inexperientes, mas as coisas foram acontecendo; não é o país dos nossos sonhos ainda, mas estamos fazendo o que podemos", diz ele. "Não sejamos ingênuos de esquecer que estamos há seis meses do início da campanha eleitoral." Wagner também diz não entender o "alvoroço" do PSDB quando o PT faz comparações entre o governo Lula e Fernando Henrique. Lembra que, até em cidades de interior, quando um prefeito assume, a população compara a gestão com a anterior. "Quem nos antecedeu por oito anos? Foi o PSDB. Quem é o mais forte concorrente ao Lula em 2006? É o PSDB. Por que não querem que a gente compare?" perguntou. "Você mede política econômica pelos resultados, não pelas ferramentas empregadas", argumentou o petista.