Título: Verticalização prejudica candidato próprio
Autor: Janaina Vilela, César Felício e Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2005, Política, p. A4

A presença nesta segunda-feira do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, em programas do PMDB em estados tão díspares como a Bahia e o Acre é o primeiro movimento público de Rigotto em direção à candidatura à Presidência da República. Em janeiro, deve se licenciar do governo para percorrer o país e se preparar para enfrentar o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, nas prévias pemedebistas. A estratégia do governador para conquistar a candidatura será oposta à de seu rival: em vez de partir para o corpo a corpo nos Estados, Rigotto espera contar com o apoio das lideranças. Tem a oferecer o fato de ser um pemedebista "orgânico", ao contrário de seu rival. Espera com isto estabelecer uma relação de confiança: Rigotto colocaria sua candidatura a serviço dos pemedebistas. Garotinho seria "incontrolável". De saída, o argumento seduz alguns caciques governistas, como o ex-ministro das Comunicações e deputado Eunício Oliveira (CE), e da oposição, como o deputado baiano Geddel Vieira Lima. "É mais fácil apoiar o Rigotto, porque a vitória dele seria a vitória do PMDB. A do Garotinho, seria a do Garotinho. Se o Garotinho não for para o segundo turno, ele toma a sua decisão e o partido se espatifa", disse Eunício. "Ter história dentro do partido facilita", comenta Geddel. O fato de ser um completo desconhecido fora do Rio Grande do Sul e Garotinho disputar nas pesquisas o segundo lugar com os tucanos, dependendo da lista dos candidatos, também não deve ser determinante nas prévias. No colégio eleitoral pemedebista, formado pelos cerca de 20 mil detentores de cargo eletivo ou partidário, não existe voto sem dono. "As prévias não são como eleições primárias. Se o candidato não empolgar as lideranças, não vai emplacar", prevê o ex-ministro da Previdências e senador Romero Jucá Filho (RR), um governista. A primeira tarefa do governador é impedir qualquer tentativa de se jogar as prévias do PMDB para depois de março, como deseja a ala do partido que ainda tenta articular uma aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou, pelo menos, deixar o partido sem candidatura própria. A possibilidade de ficar fora do jogo é atraente para o partido caso permaneça a regra da verticalização, já que o PMDB poderia assim fechar alianças livres nos Estados. "O PMDB tem todas as condições de correr por fora e não ir de arrasto ao PT ou ao PSDB. Vou ajudar o partido a construir este caminho novo", acrescenta Rigotto. Sem nenhuma simpatia pela idéia de concorrer à reeleição, o governador adia ao máximo a formalização de sua pré-candidatura para manter a própria sucessão sobre controle. Se o PT gaúcho fragilizou-se com as eleições municipais do ano passado, sua administração no Rio Grande do Sul também não é passaporte para uma eleição tranqüila. Há dúvidas se Rigotto não terá que recorrer novamente ao Banrisul para garantir o décimo-terceiro salário do funcionalismo. A dívida estadual é equivalente a três anos de receita. Mas os aliados do governador pensam que o fato de Rigotto ser um gerente de crises desde que assumiu o governo é uma das principais credenciais para a disputa. Apontam como trunfo a atração de investimentos. Balanço recente indica 190 projetos anunciados desde 2003, com aportes totais de R$ 19 bilhões, boa parte com apoio de um programa de incentivos fiscais que adia por até treze anos o início do recolhimento de parte do ICMS gerado. O terceiro e mais difícil desafio para Rigotto concretizar a candidatura é evitar a cristianização. O PMDB é uma federação de lideranças regionais que tendem a privilegiar as disputas locais. Hoje, o partido está com nove governadores. E Rigotto, se candidato, começará nas pesquisas na lanterna. "Como vamos prejudicar o mais forte em nome do mais fraco?", indaga o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), do bloco governista. "No Rio Grande do Norte, nossa aliança é com o PSDB e com o PFL. Em Brasília, apoiamos o governo federal. Quem vai se coligar com o Rigotto?", pergunta. No Rio Grande do Norte, o filmete de Rigotto não vai passar. "Nem o do Garotinho. Vamos usar o programa para consolidar o nosso candidato a governador, o senador Garibaldi Alves, sem fazer referências à situação nacional", disse Henrique Alves. (JV, CF e SB)