Título: Bradesco busca parcerias nos cartões 'private label'
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2005, Finanças, p. C8

Dinheiro de Plástico Marca própria é vista como de maior potencial

O Bradesco quer repetir parcerias com emissores de cartões "private label", como as já realizadas com as redes Leader Magazine, Hering e Comper, e já está atrás de outras empresas, disse Paulo Isola, diretor da área de financiamento de consumo do banco. Private label são os cartões de marca própria, emitidos por lojas e entidades com ou sem fins lucrativos. A Leader Magazine, por exemplo, é dona da empresa de cartões de crédito Leadercard, que tem uma carteira de 2,3 milhões de plásticos distribuídos, sendo uma das cinco maiores bases de private label do país. Isola, que participou de um debate sobre crédito ao consumo ontem, na sede da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), não quis antecipar o nome dos novos parceiros. Mas explicou que o banco se convenceu de que o private label é a forma mais eficiente de trabalhar com cartões de crédito no Brasil, modalidade em que o Bradesco tem hoje uma base de 8 milhões de cartões de crédito e 10 milhões de débito. No cartão de crédito, o Bradesco tem R$ 2,5 bilhões emprestados para os clientes (de um total de R$ 30 bilhões em crédito a pessoas físicas), incluindo o rotativo (refinanciamento de faturas vencidas). O crescimento dessa modalidade tem sido lento - enquanto o mercado cresceu este ano 43%, o Bradesco cresceu 23% - e o executivo justifica com uma postura cautelosa: "Não queremos evoluir no cartão na base do (crédito) rotativo, porque se você dá taxas punitivas, a probabilidade de inadimplência é alta", afirmou. Ele se refere ao fato de que as taxas do crédito rotativo dos cartões estão no topo da lista dos juros mais elevados do mercado financeiro, abaixo apenas do cheque especial. "No Brasil, as pessoas usam o cartão mais como meio de pagamento e menos como crédito. Nosso desafio é ampliar o uso dessa ferramenta e o melhor caminho é o private label", disse Isola. A pouca utilização dos cartões também é uma preocupação das operadoras das bandeiras Visa e MasterCard, que têm investido pesado em campanhas para aumentar o que eles chamam de "ativação" dos cartões. Segundo Isola, o private label é um tipo de cartão que funciona dentro um relacionamento mais próximo entre o emissor e os clientes e, admitiu, "a inteligência de crédito está no lojista". Depois de tantos anos sem dar crédito, os bancos aprenderam menos a conceder empréstimos do que os lojistas, disse Isola. "Enquanto isso, o comércio aprimorou sua capacidade de avaliação (de riscos de crédito)." Com diversas parcerias fechadas nos últimos anos com redes de varejo como Casas Bahia, Lojas Colombo, Salfer e Grupo Pão de Açúcar, em que o banco entrou com linhas de financiamento, Isola diz que esse é um mercado que tem um grande potencial de expansão pela entrada das instituições financeiras nas redes regionais de varejo, ainda pouco exploradas. "Só com as parcerias com as Casas Bahia, a Salfer e duas outras redes do Sul ganhamos mais de 5 milhões de novos clientes", afirmou Isola. O detalhe é que esses clientes não eram do sistema financeiro, mas do comércio, muitos inclusive nunca tiveram conta em banco. Outra aposta do Bradesco, contou o executivo, é no financiamento para aquisição de bens. O banco é dono de uma participação de 23% em um mercado calculado em R$ 10 bilhões. Um levantamento divulgado ontem pela Partner Consultoria, empresa especializada em análise de crédito de consumo, mostra que o saldo de crédito destinado às pessoas físicas já responde por 45,8% do total de empréstimos dos bancos e financeiras, contra 54,2% das pessoas jurídicas. Historicamente, informa a Partner, os empréstimos para empresas sempre foram maiores que os para pessoas físicas, mas a distância tem diminuído. Em dezembro de 1996, por exemplo, a participação dos consumidores no crédito era de apenas 12,1%, contra 87,9% para pessoas jurídicas.