Título: Para promotores e delegada, morte de Celso Daniel foi encomendada
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2005, Política, p. A10

A morte de Celso Daniel, prefeito de Santo André, em 2002, não foi obra do acaso. O assassinato do petista em 2002 foi planejado por empresários ligados ao transporte público local, devido a um desacerto no esquema de corrupção instalado no município. A tese é defendida pelo Ministério Público de São Paulo e foi corroborada na tarde de ontem pela Polícia Civil do Estado. Durante mais de quatro horas, dois promotores - Roberto Wider e Amaro Thomé - e a delegada Elizabeth Satto, titular da 78ª Delegacia de Polícia paulistana, falaram na CPI dos Bingos sobre o assassinato do político. Apresentaram indícios fortes de comprovação à hipótese de "crime de mando" e reclamaram da atuação do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e do chefe-de-gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, no caso, a quem acusam de tentar atrapalhar as investigações. "Estou convicto que o crime ocorreu por conta do desarranjo no esquema de corrupção na prefeitura de Santo André", disse Wider, aos senadores. Para os promotores, Celso Daniel sabia e participava do esquema, montado para desviar dinheiro para os cofres das campanhas do PT. Quando descobriu que os corruptores recebiam uma parcela maior dos lucros da propina em detrimento do partido, tentou desmontar o esquema, ainda de acordo com a versão dos promotores. "Tenho certeza também do envolvimento do Sérgio Gomes da Silva. Ele apresentou cinco versões diferentes para o crime, fez um retrato falado que não condiz com nenhum dos suspeitos e tentou atrapalhar as investigações", complementou Wider, ao citar o empresário e amigo de Celso Daniel, que estava com o prefeito no momento do seqüestro. O promotor Amaro Thomé concordou com o parceiro de investigações. "Encontramos provas no veículo no qual estava o prefeito que desmentiam as versões de Sérgio Gomes. Quatro laudos periciais desmentiram as teses montadas por ele", afirmou. Para os integrantes do MP, outros indícios importantes para comprovar a hipótese de crime planejado são as marcas de tortura no corpo de Daniel. Há marcas nas costas, na cabeça e nas pernas frutos de tortura. Para os promotores, o empresário Ronan Maria Pinto e o então secretário da prefeitura Klinger Luiz de Oliveira são os outros dois mandantes do crime. Wider destacou que não se trata de um crime político. "Não há uma motivação política para a morte do prefeito. Não é um partido política determinando a morte de um inimigo ideológico. O crime tem motivação no esquema de corrupção na cidade", afirmou. "Mataram o prefeito Celso Daniel para perpetrar um outro crime. É um agravante a mais", disse. A investigação do MP conta com mais de 70 depoimentos e 10 milhões de dados telefônicos. Perguntado pelo senador José Jorge (PFL-PE) sobre uma possível movimentação do PT para abafar o caso, Wider foi categórico: "A operação abafa é bastante detectada nas fitas obtidas nas conversas telefônicas, onde foi possível descobrir reuniões do Gilberto Carvalho na casa do deputado José Dirceu para mudar o foco do assunto". Ao falar de Greenhalgh, o promotor disse considerar a atuação do deputado "estranha". "Diversas testemunhas íamos à casa do Greenhalgh antes de ir à polícia para serem preparadas. É um fato bastante grave", afirmou. E completou: "Ele (Greenhalgh) foi enviado como observador da Câmara dos Deputados. Deveria ter uma atuação imparcial e não falar com as testemunhas antes".